Em Edimburgo, uma passagem pela fantástica lanchonente Oink Edinburgh
Viagem de trem para Edimburgo na Escócia. Como é bom andar de trem! Se fosse possível eu só viajaria de trem. Não me importo com o tempo. Sejam duas, três, quatro vezes mais do que uma viagem de avião e eu prefiro.
Dá para circular pelos vagões, ir até o vagão bar, encostar-se na janela para observar a vista, ou simplesmente ficar no seu lugar mesmo. Sistema Wi-fi, mesinha para apoiar o computador e até uma tomada! São coisas que um dia meus netos hão de ver no Brasil. Por enquanto o que temos é um trem-bala que não temos.
As quatro horas da viagem passaram rápido, foram-se no admirar da vista. No fuxicar da internet e no conversar sobre nossa programação na Escócia. Depois que cruzamos pela cidade de Newcastle, uma densa nevoa surgiu sobre os campos ingleses. O famoso fog. E que fog! A neblina aumentava conforme subíamos para o norte. E a vista da janela me dava um frio danado.
Waverley Station
Para este trecho da viagem que incluiu Edimburgo e Dublin dividimos, eu e Silvia, nossas tralhas em uma pequena mala verde de rodinhas e duas mochilas. Não sei o que nos deu de acreditar que aquela quantidade de espaço seria suficiente para nossa fúria consumista. Inclusive porque já saímos de Londres com todas as malas cheias. Ao menos facilitou a nossa chegada a bela cidade escocesa. Desembarcarmos na Waverley Station e logo sentimos a diferença de temperatura em relação a Londres. Foi o maior frio de toda a viagem, uns dois graus.
Ao sair na rua fiquei um pouco confuso. Afinal onde está a cidade? Tinha estudado o mapa de Edimburgo por dias a fio, analisei o caminho da estação de trem até o hotel, a pé. Mas não esperava que ao chegar lá, simplesmente não seria capaz de enxergar nada, pois a neblina escondeu todas as construções num denso cinza. Não sabia o que era leste e oeste e mesmo depois de arrumar um mapa numa birosca turística, continuei sem saber para que lado seguir. A grande referência, o castelo medieval, não estava lá.
Depois de acertar a minha bússola interna finalmente caminhamos fog adentro num ziguezaguear pelas ladeiras do centro histórico, como personagens de um filme de suspense. Não acharia nada estranho se um vampiro, ou monstro, surgisse no meio da névoa. Ou estivesse a nos espreitar das janelas dos antigos edifícios de pedra, pelas irresistíveis vielas, que os escoceses chamam de Close.
Por incrível que pareça, mesmo no meio da maior neblina que já testemunhei na vida, eu consegui me achar, seguindo as indicações de um mapa úmido e as memórias do Google.
Oink Edinburgh
Não estávamos procurando o hotel naquele entanto, e sim a lanchonete que nos serviria de refúgio para o almoço. Sem dar mole para a fome, planejamos parar para comer no caminho do hotel e assim, resolvida a questão alimentar, poderíamos com calma seguir com a nossa programação da tarde.
E ao descer a Victoria St., nos deparamos com o que poderia ser a cena de horror principal de nosso longa. Um enorme porco completamente destroçado na vitrine de uma loja. Não, não era um filme trash, muito menos algo horroroso. Bem em contrário.
Lá estava nosso primeiro destino na Escócia, a pequena lanchonete Oink. Exibia aos passantes um maravilhoso e suculento porco, que aos poucos ia desaparecendo a cada garfada da atendente.
A única coisa que há no cardápio da casa é o sanduíche de carne de porco com variações de molho. Basicamente, os donos põem um imponente exemplar do animal assado na vitrine, que fica ali sendo consumido durante todo o dia até que se acabe. Quando finda o porco a loja fecha as portas, aguardando o envio do escolhido para o dia seguinte. Uma lanchonete de um porco só. Achei o máximo!
A Oink pertence a uma família de fazendeiros da região que costumava vender sanduíches no famoso Edinburgh Farmer´s Market (que infelizmente não tivemos oportunidade de ir). Isso para chamar a atenção para a qualidade da carne da sua criação orgânica de porcos. O troço fez tanto sucesso que eles abriram uma pequena lanchonete e abatem um porco por dia para o nosso deleite.
Pulled pork
No fim das contas nós éramos os monstros a devorar e admirar os destroços daquele animal. Os vegetarianos que se distanciem, pois aquele é um lugar de carnívoros ferozes, ávidos por um enorme sanduba de porco.
No meu caso com purê de maçã e quantidade considerável de uma deliciosa pele crocante – pururuca para não botar defeito. E se você fizer questão pode escolher até o lugar da garfada. Prefere do lombo, da costela ou do pernil? É só acompanhar a simpática moça até a vitrine que ela terá o prazer de lhe mostrar como se arranca um lombinho inteiro das costas de um porco de uma vez.
A pele é opcional. Isso para os outros, porque eu acho um item obrigatório. Foi tanta casquinha de porco que tive medo de passar mal depois. Mas naquele frio lá a gordura metaboliza num instante. Oink, Oink! Que delicia de lanche-almoço. Que chegada triunfal a Edimburgo! Depois de alimentados, continuamos nosso caminhar pela nevoa até o hotel, felizes da vida.
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