Todo dia é dia de Dobradinha no Lanches Escol, boteco raiz de Copacabana, de atendimento impecável e comida saborosíssima. Só não tem quando acaba.
Foi justamente para matar minha vontade de comer Dobradinha que tomei o metrô até a Cardeal Arcoverde, andando então, num dia de semana quente no Rio de Janeiro, em direção a Avenida Princesa Isabel.
Lanches Escol, um boteco raíz de Copacabana
A famosa Avenida é a porta de entrada, ou saída, do tradicional bairro carioca, levando ao túnel que o divide de Botafogo. Não é propriamente o local mais aprazível do mundo para se estar, mas é lá que, num cantinho quase na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, fica o Lanches Escol.
A despeito do trânsito intenso, os clientes parecem preferir ficar ali espalhados pelas mesas da calçadas, protegidos, no entanto, do sol pela marquise de prédio acima. Mas, por outro lado, expostos à possibilidade de um malandro passar de bike ou moto e tomar o celular (conforme logo me alertou o pessoal do boteco). Um tipo de crime, diga-se de passagem, muito comum tanto no Rio como em São Paulo.
Devidamente alertado do fato, já que estava ali também filmando com o celular, eu me refugiei no pequeno espaço interno da casa. Um ventilador na parede ajudava a conter o calor, que estava forte, mas ainda assim muito longe dos picos do Rio em seus piores dias de verão.
Consegui, portanto, arrumar uma mesa no ambiente diminuto, ao lado dos engradados de cerveja. Os garçons passavem frenéticamente de um lado para outro levando travessas com tudo que é tipo de comida de boteco.
Lanches Escol e as maravilhas da gastronomia raiz botequeira
O esquema no Lanches Escol é: escolha uma proteína e você pode comer a guarnição que quiser à vontade. Eu fui atrás da Dobradinha que por lá, conforme me relevaram, servem quase todo dia. Enquanto a minha dobradinha não chegava, o pessoal já ia assim deixando coisas pelo caminho. Porção de batatas fritas, torresmos, couve. Eu ganhei até um carré de presente. Uma loucura.
Mas o local é um verdadeiro paraíso para amantes de botecagem, pois ofertam todas as maravilhas possíveis da gastronomia raiz brasileira. Mocotó, Iscas de Fígado, Frango com Quiabo, Carne Assada, Pernil Acebolado, Abóbora com Carne seca e umas tantas outras possibilidades que dá vontade de passar a semana por lá traçando tudo, enfim.
A Dobradinha no Brasil
Fumegante a Dobradinha veio, numa cumbuca pequena. Muito gostosa, bem temperada. Dá para ver que o papo lá é sério. Nada de comida mais ou menos. Uma Dobradinha estilo carioca, com a linguiça paio e os pedaços de rúmen, no caldo com legumes.
A Dobradinha é uma das mais antigas receitas brasileiras. A sua base de preparo foi introduzida então pelos colonizadores portugueses e aqui ela foi ganhando adaptações, como o fato de comermos com a brasileiríssima farofa, além do arroz. É muito popular no Nordeste, mas também um prato comum nos botecos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O ingrediente principal da Dobradinha é o rúmen ou a pança, o maior dos estômagos do boi. São as partes cortadas em tiras e de consistência mole, muito macia. O estômago é servido junto com feijão branco ou fava, algum embutido, que pode ser calabresa ou paio, como no caso do Lanches Escol.
Os legumes mais usados são a batata e cenoura. Geralmente vem com carne de porco, que pode ser toucinho, costelinha ou mesmo lombo. Para acompanhar, como já citado, é mais comum é a farofa e o arroz. Mas é claro que você encontra uma pequena variação de bar em bar. De maneira geral, no entanto, esses são os ingredientes desse maravilhoso prato.
A origem da Dobradinha
Uma origem muito citada da Dobradinha é a cidade do Porto, que tem entre os seus pratos célebres as Tripas à Moda do Porto. É um potente conjunto reunindo estômago bovino, mocotó, galinha, toucinho, salpicão, chouriço e feijão branco.
Alguns dizem, inclusive, que o apelido tripeiro, pelo qual são conhecidos os habitantes da cidade portuguesa, deriva justo do gosto pelo prato.
Mas o fato é que essa comida surgiu ali pela Idade Média e é apreciada em vários países europeus, onde ganha, pois, diversas versões. Os franceses têm a sua Tripes à la Mode de Caen e os italianos fazem Trippa Alla Romana e assim vai.
O nome adotado no Brasil, porém, deriva da versão lisboeta, a Dobrada que reúne estômago, presunto, chouriço e feijão branco. Diz-se que o nome vem do fato de o bucho bovino ser dobrado várias vezes antes de cortado e, então, cozido.
Onde comer Dobradinha
Em São Paulo a dobradinha é servida no calendário botequeiro as terças-feiras. No Rio de Janeiro alguns botecos também servem o prato neste dia, mas não há uma regra tão fixa para tanto.
É um prato mais fácil de encontrar em botecos raiz como é o caso do Lanches Escol. Ou em alguns restaurantes portugueses, que servem versões das Tripas à Moda do Porto.
Para quer provar Dobradinha e busca um lugar com comida realmente barata, eu recomendo especialmente o Lanches Escol. Não somente por isso, mas também pelo seu atendimento que é muito atencioso.
Fechando o almoço no Lanches Escol
O ambiente é bem sem frescura, barulhento, mas tudo funciona que é uma beleza. E como é comum em Copacabana, as famílias locais se misturam com os gringos (nacionais e estrangeiros) e com o pessoal que trabalha pela área, nesse clima assim bem diverso da Princesinha do Mar.
Em minha pequena mesa mal cabiam as travessas de acompanhamento junto com meu prato e a cumbuca de Dobradinha. Fui ajeitando o espaço daqui e de acolá para o copo e a garrafa de cerveja Henekein. Apreciei o prato vagarosamente, curtindo o papo botequeiro ao redor.
Dei cabo a Dobradinha, mas pedi arrego ao pessoal da casa pelos acompanhamentos. “Quer um macarrão?” “Quer purê de batatas?”. Não é possível. Os clientes, no entanto, parecem apreciar essa grande mistureba de elementos no esquema quanto mais melhor.
Mas quando vi uma cumbuca de mocotó passar ao meo lado, mesmo cheio, meus olhos brilharam. Irresistível! Pedi assim ao garçom ao menos por uma provinha, que veio num copinho americano.
Delicioso mocotó. Vai ser meu foco da próxima vez.
Lanches Escol
Endereço: Avenida Princesa Isabel, 305 – Copacabana, Rio de Janeiro.
Horário: segunda à sábado das 11h às 22h
Contato: (21) 98888-1330
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