Os shawarmas são uma das mais populares comidas de rua do Oriente Médio. Nesse texto eu visito dois dos meus endereços prediletos para devorar shawarma no Centro de São Paulo: o Aboud Shawarma, no Largo do Paissandú, e o restaurante Syria, próximo ao Largo do Arouche. Dois locais simples, mas com histórias pitorescas e ótima comida.

O que é shawarma, afinal?
Shawarma é um sanduíche recheado com tiras de carne assada lentamente em um espeto vertical giratório. Pode ser de frango, carne bovina, carneiro ou até misto. Está muito ligado aos árabes, aos sírios e aos libaneses.
No Brasil, a versão de boi e frango são as mais comuns, servida em pão folha ou pão sírio e recheada com acompanhamentos variados como pasta de alho, batatas fritas, tomate, cebola e cheiro verde.

Esse modo de preparo lembra muito o Döner Kebab (popular na Turquia) e o Gyros grego e deu origem a uma versão brasileira chamada churraquinho grego, vendido em barraquinhas espalhadas por toda a cidade.
Aboud Shawarma no Largo do Paissandu
O Aboud chegou ao Brasil em 2014, fugindo dos conflitos na Síria. Três anos depois, inaugurou seu primeiro ponto vendendo shawarmas no Largo do Paissandú. Conheci o lugar ainda em seus primórdios, quando escrevi sobre ele aqui mesmo no blog, e me emociona ver que ele ainda guarda essa reportagem emoldurada na parede da lanchonete.

É muito bacana ver que o Aboud se firmou no local, agora num ambiente maior, bem estruturado. Além do shawarma ele serve outros quitutes árabes.
O seu shawarma de carne bovina, que é o que sempre peço, é suculento e muito bem temperado. Com tamanho grande, além da carne, cebola, tomate e cheiro verde, leva também umas batatas fritas. É temperado ainda com tahine e pasta de alho. Praticamente uma refeição.
Dou destaque especial para o pão folha produzido ali mesmo que é fininho e macio. Tudo muito bem-feito.
Restaurante Syria do Ahmad
Já o Syria é comandado pelo libanês Ahmad Merh, que veio ao Brasil em 2006. Antes de abrir o restaurante atual, ele estava à frente do Shawarma Ali, onde ficou conhecido pelo Vovô Ali.

No Syria, a proposta continua simples, mas a comida é muito bem-preparada. Além do shawarma, há sanduíches de kafta, falafel e sugog (uma espécie de almôndega apimentada), todos a preços justos.
Um grande diferencial dele, é servir um misto de carne de boi com carne de carneiro o que é raro por aqui. Popular no Líbano, o shawarma de carneiro é mais difícil de encontrar no Brasil. Além da dificuldade do fornecimento, é bem mais cara.

Para contornar isso, Ahmad usa carne de costelas de carneiro, misturando com coxão mole bovino. É muito saboroso o seu shawarma. Não posso deixar de citar ainda uma pasta de pimenta da casa que é espetacular.
Qual a diferença entre Shawarma, Döner Kebab e Gyros grego?
O preparo de carne no espeto vertical giratório tem origem no antigo Império Otomano e se espalhou pelo Oriente Médio, Norte da África, Europa gerando diferentes versões como o Shawarma, Döner Kebab e Gyros grego. Apesar de muito semelhantes, cada um têm suas particularidades.

A principal diferença está nos temperos e nos acompanhamentos usados em cada região. O shawarma é mais vinculado aos árabes e costuma levar pasta de alho e tahine. O Döner Kebab é típico da Turquia e servido muitas vezes com iogurte. Já o Gyros, tradicional da Grécia pode levar alecrim. Entre outras nuances.
Também há uma diferença no pão utilizado e forma de servir. No shawarma a carne é enrolada no pão folha ou pão pita (sírio ou árabe, como preferirem). Já no Döner Kebab é servida dentro de fatias de pão Pide, tradicional na Turquia. O Gyros também é com pão pita, mas não enrolado e sim com fatias inseridas dentro do pão.
O que é churrasquinho grego?
Em São Paulo ficou muito popular uma versão brasileira, o famoso churrasquinho grego. O modo de preparo é o mesmo: fatias de carne empilhadas e assadas lentamente em um espeto giratório vertical.
Então, na hora do consumo corta-se a carne no sentido inverso das fatias empilhadas, o que gera as tiras finas de carne.
Na capital paulista, no entanto, utiliza-se um misto de diferentes cortes de carne, incluindo boi, frango e linguiça, além de legumes que variam. Outra diferença primordial é que o churrasquinho grego é servido dentro do pão francês e pode incluir o molho vinagrete.

Essa versão é a mais popular na cidade e vendida em diversos locais, principalmente com grande fluxo de pessoas. Alguns já são pontos fixos e outros preparam em carrocinhas adaptadas com os fornos de espetos verticais.
Gosto também de churrasquinho grego, tem o seu valor e sobretudo é um lanche com preço bastante acessível, vendido geralmente com um suco de cortesia. Perto de minha casa ali atrás do Mercado da Lapa, em frente aos trilhos da CPTM, fica o Churrasquinho Grego do Kinho, onde vira e mexe gosto de parar para traçar um.
Os shawarmas no Brasil: uma chegada recente
Curiosamente, o shawarma não chegou ao Brasil com os primeiros imigrantes libaneses e sírios entre os séculos XIX e XX. Esses trouxeram receitas que logo se tornaram clássicos brasileiros, como quibes, esfihas e homus.
Já o Shawarma demorou um pouco mais, provavelmente por causa da ausência dos espetos giratórios. Mas também porque os primeiros imigrantes, que eram cristãos maronitas e melquitas, tinham uma culinária um pouco diferente da dos muçulmanos, cujo Shawarma é mais tradicional.

Segundo a autora Lea Mansur, o prato teria sido introduzido no Brasil apenas a partir da década de 1940, com imigrantes libaneses mulçumanos que se fixaram especialmente na região Sul, em cidades como Foz do Iguaçu.
Mas foi apenas nos anos 2000 que o shawarma passou a ganhar notoriedade em São Paulo, impulsionado por refugiados recentes do Oriente Médio.
É exatamente esse o caso do Ahmad Merh, do Syria, e Aboud, do restaurante que leva seu nome. Histórias de recomeço através da gastronomia.

Os melhores shawarmas do Centro de São Paulo
Esses são dois dos meus shawarmas preferidos no Centro de São Paulo, mas a cidade está cheia de bons representantes dessa iguaria árabe. Isso sem contar o churrasquinho grego que se espalhou por diversos pontos da metrópole.
Talvez eu ainda esteja para descobrir outros shawarmas melhores, porque uma coisa é certa: os espetos giratórios já se tornaram uma tradição paulistana.
Restaurante Syria
Endereço: Av. São João, 1248 – Campos Elíseos, São Paulo
Horário: segunda à sábado das 12h às 21h
Contato: (11) 3222-2401
Para saber mais: instagram.com/restaurantesyria
Aboud Shawarma e Comida Árabe
Endereço: Largo do Paissandú 55 – República, São Paulo
Horário: segunda à sábado das 12h às 20h
Telefone: (11) 95842-1962
Além das conversas com Aboud e Ahmad, para produção deste texto também visitei alguns pontos de venda de churrasquinho grego e consultei as seguintes fontes de pesquisa:
frigideira.aiqfome.com/origem-do-shawarma
youtu.be/_M2Q0l7LWcY
f5.folha.uol.com.br/colunistas/aventura-na-cozinha/2021/07/kebab-e-shawarma-inspiram-lanche-saboroso-que-e-opcao-diferente.shtml#:~:text=Explico.,assadas%20em%20um%20espeto%20vertical.
anba.com.br/da-industria-a-culinaria-libanes-cria-restaurante-em-sp/ chromeextension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj
funag.gov.br/loja/download/1230-as-relacoes-brasil-libano-legado-e-futuro.pdf?https://diariodoturismo.com.br/restaurante-syria-resgata-a-essencia-da-comida-arabe-em-sao-paulo
www.scielo.br/j/rbepop/a/sf95nNCvLpJBqKbqqqPKMhQ/?utm_source=chatgpt.com www.facebook.com/share/1BqYCDu5Sz
www.youtube.com/watch?v=bb0dvcZaHTQ&t=1s
www.youtube.com/watch?v=XHQHdOV4EYo&t=195s
Gostou das dica? Então der um pulo lá não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.
Encontre outras dicas de bares e restaurantes em São Paulo em: comer e beber em Sampa