Nunca acho muito seguir discorrendo sobre o tema boteco e botequim, ainda mais porque vivo recebendo diferentes comentários do que se trataria, enfim, um boteco.
Eu já fui mais radical em minha visão sobre um botequim e um boteco. Hoje vejo que é impossível definir claramente o que é um boteco ou um botequim.
Esses tipos de estabelecimento, por si só, sofreram uma enorme evolução ao longo do século XX. Seguem sofrendo no século XXI. Portanto, qualquer tentativa de estabelecer parâmetros teria de levar em conta certo período de tempo. Ou mesmo determinada região da cidade do Rio de Janeiro.
O botequim e boteco são lugares populares, de comida mais barata, com ambiente informal. A diferença para o boteco está no tamanho. O botequim geralmente tem mesas, um ambiente maior. Em muitos casos conta com cardápio definido com mais opções do que os pratos do dia e também com garçons.
Muitos botequins oferecem chope e não cerveja. De uns tempos para cá os preços nos botequins do Rio de Janeiro tem subido muito e já não é possível defender a tese da comida barata como antigamente.
Alma de botequim
Alguns itens como ladrilhos de diferentes cores, cadeiras e mesas típicas compõe o que se entende por uma arquitetura botequinesca, mas não necessariamente definem uma casa como sendo ou não um botequim.
Isso só é possível mais por uma soma dos fatores anteriormente apresentados com o que seria uma alma de botequim. Este estado espiritual advém da frequência. Cada botequim tem a sua própria identidade, pois ele está intimamente ligado a rua e ao bairro onde se encontra e tem os seus personagens clássicos.
Quanto ao boteco, este é um estabelecimento mais popular que o botequim, geralmente trabalhando apenas com pratos do dia e pratos feitos, petiscos básicos e tem tamanho reduzido.
Muitos não comportam nem mesas e não tem cardápio ou garçom. Por um longo tempo, o boteco era compreendido como um lugar sujo de gente bêbada somente. Um conceito que se mistura com o termo carioca pé-sujo. O pé-sujo estaria numa categoria menor dentro de boteco e seria justamente aquele lugar mais largadão.
A banalização do boteco
Atualmente muitos bares e até restaurantes mais descolados roubam para si o termo ‘boteco’, querendo talvez agregar a característica da informalidade que este embute. Apesar de eu não ser radical quanto a este uso (pois acho que é de direito de cada um pensar seu bar como quiser), concordo que o boteco de verdade passa longe de um lugar descolado ou mesmo um restaurante mais bacaninha.
Porém, acho que boteco pode ser ou não um lugar largado e que não existe uma característica arquitetônica ou itens que definam o que é um boteco. No Rio, onde o termo surgiu, os botecos têm diferenças entre si, dentro do espaço reduzido.
Alguns agregam a função de bar e lanchonete inclusive. Outros são mesmo mais limpinhos e iluminados. Mas todos são pequenas instituições, que nunca estão vazias, e que se encontram escondidas entre o comércio de calçada da cidade.
Neles é possível encontrar produtos como cigarro, pilhas, isqueiro e parar para tomar uma cerveja e cachaça no balcão. A frequência é comum de trabalhares das classes C e até D, mas também gente da classe B.
Os defensores ferrenhos dos ‘botecos’ deveriam ficar felizes com a notoriedade do termo, pois isso fez com que este estabelecimento saísse do vazio de reconhecimento e possibilitasse mesmo a preservação de muitos deles. Apesar de que é raríssimo ver algum boteco falir, diferentemente de um botequim (pois é necessária mais estrutura financeira para sustentar um).
Tombamento dos botequins do Rio de Janeiro
Falando um pouco mais sobre o tombamento dos botequins do Rio de Janeiro pela prefeitura, como acabei de dizer, se tratou de um ato para preservar exemplares de botequins e não botecos da cidade. Todos os inclusos na lista merecem estar lá.
No entanto, outros não incluídos talvez merecessem mais do que alguns presentes. Faz parte do jogo. Como disse em artigo anterior, o mais importante do ato foi simplesmente jogar luz sobre o tema. Quem sabe outros tombamentos virão, até chegarmos finalmente alguns botecos clássicos que devem ser preservados.
Vejam que na lista existem instituições muito diferentes entre si como o Café e Restaurante Lamas, o Bar Luiz e o Armazém Senado. Todos são botequins.
Por isso reforço o fato de que o conceito é flexível e que não necessariamente se refere aos locais com os famosos azulejos. Um exemplo deste estilo (e uma casa que merece ser preservada) é encontrada no botequim Salete na Tijuca.
Bom, achei que o tema merecesse mais alguns parágrafos.
Gostou das dicas? Então quando der um pulo em um dos locais indicados não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.
Encontre outras dicas de bares e restaurantes no Rio de Janeiro em: comer e beber no Rio
A Paulistinha vai voltar segundo o Juarez Becoza publicou no dia 08/12 no seu blog. A reabertura da casa está prevista para março com a sua classuda chopeira.
Nossa, esta notícia é maravilhosa! Quer dizer que voltará em grande estilo, com chopeira e tudo! Muito bom saber disso. Obrigado por me informar,
Abraços,
Dé Comber
Cito um boteco que faliu e deixou muitos órfãos: o Paulistinha, na Rua Gomes Freire, centro do Rio. Boteco com chope Brahma bem tirado, bolinho de bacalhau, além do famoso mec-mec, que faleceu junto com o bar.
Olá Sérgio,
Ótima lembrança! O fechamento do Paulistinha foi uma grande perda para a cidade. Eu tinha grande apreço pelo lugar. Gostaria de saber o que fizeram com a chopeira de bronze original, uma peça rara que só existem em poucos lugares da cidade como o Bar Brasil e Bar Lagoa. Era um grande boteco e com um bolinho de bacalhau de respeito. Acho que tenho algumas fotos de lá. Vou fazer um texto sobre isso.
Valeu por me recordar desta casa. Um abraço,
Dé Comber