Nada mais brasileiro do que uma boa feijoada de boteco. Mas será que existe diferença entre a feijoada carioca e a paulistana? Foi o que eu decidi descobrir nesse tira-teima gastronômico entre duas cidades.
De um lado, o Rio de Janeiro, representado pela Adega Portugália, no Largo do Machado. Do outro, São Paulo, com a feijuca do Bar do Baixinho, na Vila Romana. Qual capital serve a melhor feijoada?

Feijoada paulistana no Bar do Baixinho
Para provar uma típica feijoada paulistana, fui até a Vila Romana, na Zona Oeste, no tradicional Bar do Baixinho, o “Rei do Colarinho” como o bar se intitula. De fato, quando o assunto é chope, o Baixinho realmente se destaca.
Seu fundador, Aranilton, ou o “Baixinho” como os clientes o chamam, trabalhou muitos anos no Bar Leo e trouxe a expertisse do chope para o seu bar.
É um típico boteco de bairro, funcionando desde 2003 e já enraizado na esquina da Rua Duílio com a Cléia. Tem ótimas opções de petisco e uma versão muito boa de feijoada, em se tratando de São Paulo.
A feijoada do Bar do Baixinho é o retrato fiel da feijuca paulistana de boteco: servida em cumbuquinhas, com costelinha, carne seca, lombo e linguiça calabresa. Por R$ 45,00 a porção individual.

Bisteca e molho de pimenta ganham pontos
O conjunto vem acompanhado de arroz, couve refogada, bisteca e torresminho — uma combinação clássica que já virou padrão na capital paulista.
O molho de pimenta misturado ao caldo de feijão é um destaque à parte. Em São Paulo, esse molhinho apimentado costuma vir junto ao prato e é uma tradição que gosto muito.
Outro ponto alto na feijoada paulistana é a bisteca (ou carré com dizem os cariocas) que acompanha o prato. Ganha esse ponto em relação ao Rio, onde não é comum.

Mas farofas paulistanas podiam melhorar…
Por outro lado, as farofas paulistanas são um ponto fraco. Isso não é exclusividade do Baixinho, é uma característica geral da cidade. Falta aquele toque especial, mais úmido, mais saboroso, típico das farofas do Rio.
Eu confesso que depois de 15 anos morando em São Paulo, sigo sem entender por que o paulistano dá tão pouco valor à farofa.
Mas no geral, a feijoada do Bar do Baixinho é um exemplo digno de boteco de bairro paulistano bem-feita: comida simples, bem temperada e servida em ambiente familiar. É um boteco muito bom.

Feijoada carioca na Adega Portugália
Para ser justo busquei um bar no Rio que tivesse mais ou menos as mesmas características do Bar do Baixinho, em São Paulo.
Fui então ao Largo do Machado, entre o Catete e o Flamengo, na Adega Portugália. Aberta em 1979, a Adega é um típico boteco-restaurante de bairro carioca, com mesas simples e garçons que já conhecem os fregueses pelo nome.
Ou seja, um estilo, frequência de público e faixa de preço bem semelhante ao Baixinho. Sobretudo também trabalham com chope, a despeito de não ser tão bom como no boteco da Vila Romana. Mas o assunto aqui é feijoada.

Assim como em São Paulo, o feijão vem dentro de uma cumbuca junto com as carnes e acompanhado de arroz, torresmo, farofa e a couve. Mas no Rio não é costume servir uma bisteca junto à feijoada, nem aquela pimenta já no caldinho de feijão, o que deu dois pontos para a versão paulistana.
Farofa carioca
Por outro lado, quando o assunto é farofa, aí não tem jeito. As do Rio são muito melhores que as paulistanas. Como já citei, não é um problema do Bar do Baixinho especificamente, que fique claro.
Mesmo a farofa da Adega Portugália, que nem de longe é uma das melhores que já comi no Rio, é muito boa e bem-preparada. Se em São Paulo é difícil de se arrumar uma farofa que preste, na capital carioca a farofa bem-feita é regra.
Nos quesitos arroz, couve e torresmo não tem muito diferença. A Adega do Largo do Machado serve também com mandioca, ou aipim, mas nem considero como base de comparação pois é um detalhe mais do local que da capital carioca. A porção por lá é bem generosa, atendendo bem duas pessoas. O que justifica o preço de R$ 99,99 cobrado.

Diferença no paladar
Chegamos então, a cumbuca de feijão com as carnes. De cara já dá para reparar em uma das principais diferenças entre as cidades. No Rio o costume é a feijoada vir com o paio, já em São Paulo a linguiça mais comum é a calabresa. Aí é do gosto de cada um.
No entanto, o Rio ganha um ponto por oferecer, de maneira geral, uma maior quantidade de carnes no feijão. No caso da própria feijoada da Adega, a cumbuca vinha carregada de carne-seca, lombo, rabo de porco e uma quantidade maior de linguiças misturadas. É uma feijoada mais consistente.
A principal diferença, porém, talvez seja no tempero. O feijão vem denso, bem temperado e cremoso. A feijoada carioca costuma ser mais carregada de sabor e textura, com temperos mais marcantes. Não sei explicar exatamente, talvez seja algo cultural. A comida no Rio é mais carregada no tempero. Principalmente alho. Essas diferenças refletem o paladar e o costume alimentar de cada cidade.
Feijão carioca x feijão preto
Em parte, acredito, se deve ao fato de o paulistano reservar o feijão preto apenas para a feijoada, enquanto o carioca come esse tipo de feijão todos os dias. O que o torna naturalmente mais exigente com o prato.

Curiosidade: o famoso “feijão carioca”, consumido no dia a dia em São Paulo, na verdade, não tem nada a ver com o Rio de Janeiro. O nome vem de uma raça de porco chamada “carioca”, comum no interior do Brasil, que é amarronzada, por isso o feijão recebeu esse apelido.
O veredito: qual é a melhor feijoada, Rio ou São Paulo?
Depois de colocar as duas frente a frente, meu paladar decidiu. Com todo respeito aos amigos paulistanos, mas feijoada carioca leva vantagem. A farofa é mais saborosa, há mais variedades de carnes e um tempero mais ao meu gosto, diria.
Mas São Paulo ganha pontos pela bisteca que acompanha o prato e pelo molho apimentado no caldo, que são diferenciais bem interessantes.
No fim das contas, o importante é que as duas cidades mantêm viva uma das maiores tradições da gastronomia brasileira. Sendo que em São Paulo a feijoada é tradicionalmente servida as quartas e sábados e no Rio, as sextas e sábados.
E pra mim, essa disputa termina empatada em uma coisa: a paixão do brasileiro por uma boa feijoada de boteco.
Quem estiver procurando outras dicas de bares e restaurantes no Rio de Janeiro dá um pulo na aba: comer e beber no Rio . Já em São Paulo, deem um pulo na aba comer e beber em Sampa
Bar do Baixinho
Endereço: Rua Clélia, 1112 – Vila Romana, São Paulo (SP)
Horário: segunda a sábado, das 11h30 às 23h30.
Para saber mais: instagram/bardobaixinhoreidocolarinho
Adega Portugália
Endereço: Largo do Machado, 30 – Catete, Rio de Janeiro – RJ
Horário: Segunda a sábado, das 08h às 01h. Domingo das 08h às 23h
Para saber mais: instagram/adega.portuga

