Pegamos um táxi para Copacabana com vontade de ir no restaurante A Marisqueira. O local parece sustentada pelos mesmos clientes desde os anos 50. Além de alguns turistas que se aventuram por lá. Parou no tempo e ficou um pouco fora de moda. Mas isso até lhe dá um charme.
Adoro a vitrine que dá para rua, com a mostra dos peixes do cardápio. Ou o clássico toldo verde de letras gastas. Mas visivelmente o local passa um certo ar indisfarçável de decadência. Será uma pena se chegar a fechar Ao menos fica essa impressão pelos poucos clientes na hora do almoço no final de semana.
Mas entre tudo, o que curto mesmo na velha A Marisqueira é a deliciosa Alheira de Mirandela. Segundo o garçom, ela é feita por uma senhorinha moradora de Copacabana. Essa apetitosa entrada artesanal é difícil de encontrar em terras cariocas.
A Alheira de Mirandela
O embutido é feito geralmente à base de carne de frango, misturado com alho, pão e páprica, mas as receitas variam.
As alheiras, segundo reza a lenda, foram inventadas pelos judeus no século XV, ao norte de Portugal. Como não comem carne de porco, eles desenvolveram este embutido a base de diversas outras carnes. Como galinha, vitela e cordeiro. Misturadas ao pão e especiarias davam aparência semelhante a tantos outros embutidos de porco portugueses.
Desta maneira, os judeus poderiam consumir as alheiras em público, sem assim revelar sua opção religiosa através da rejeição à carne de porco. Diversas páginas na internet confirmam a origem judaica do embutido, incluso o sitio do município de Mirandela, em Portugal – onde a iguaria é considerada um dos principais patrimônios.
Não são somente as Alheiras, porém, a me atrair. De certa maneira A Marisqueira tem aquele clima sisudo e antigo, com cara de avô, que me deixa bastante confortável.
Tradição que não pode acabar
Depois que a gente se livra do primeiro impacto com o ambiente fora de moda, entende-se que o restaurante vive um bonito e digno processo de envelhecimento junto com o seu dono, o velhinho português sentado ao fundo, ao lado da caixa registradora.
Compreende-se, igualmente, que os garçons são extremamente atenciosos. Além de tudo não ficam nos empurrando nada, importunando-nos com toda aquela insuportável linguagem de profissionais treinados e com o marketing na ponta da língua.
Por ali os garçons nos deixam na gloriosa paz de nossos próprios pensamentos. Percebe-se, então, que todos os poucos presentes no grande salão parecem certos do motivo pelo qual estão ali e já não precisam do cardápio para pedir.
Por fim, vê-se que alguns casais mais novos, da minha geração e de uma geração abaixo da minha também frequentam o lugar, um sinal de que, talvez, a tradição ainda consiga sobreviver por mais tempo. Daí passamos a gostar de lá exatamente da maneira que ele é.
É uma tradição que não é para todo dia, ao menos não o leitão que nós pedimos, muito gostoso, com aquela pele crocante e irresistível que faz com que queira o meu fígado pular de meu corpo toda vez que tenho a intenção de comer.
Milagrosamente, ajudado pelo olhar de reprovação da minha esposa, não comi toda a deliciosa pele, apenas belisquei uns tiquinhos daqui e de acolá. A cerveja de garrafa bem gelada e o forte ar-condicionado fecham para mim a questão. Eu me apeguei A Marisqueira.
A Marisqueira
Endereço: Rua Barata Ribeiro, 232, loja A – Copacabana. Rio de Janeiro / RJ
Horário: de terça a sábado das 12h às 22h. Domingo das 12h às 20h.
Contatos: (21) 2547-3920
Para saber mais:
instagram.com/amarisqueirarj
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