O Bar Pirajá se intitula como sendo a “esquina carioca em São Paulo”. As calçadas em volta ao bar, com suas pedras portuguesas, imitam o calçadão de Copacabana.
A página do botequim na internet indica coisas como o “Clima no Rio”, faz link com o jornal O Globo e apresenta um panorama do futebol carioca. Quer mais?
Além de um bar, o estabelecimento se tornou um verdadeiro consulado do Rio em Sampa, frequentado por muitos sambistas cariocas e com programação de pagodes e sambas e até a importação de blocos de carnaval para animar os dias que antecedem a festa da carne.
Trata-se do “Primeiro Bar Carioca de São Paulo”, como está descrito em uma das abas do site. Eu particularmente achei muito cheio de firula e pouco objetivo. Será que até nisso eles querem parecer como um carioca?
As firulas, na verdade, estão por todos os lados, para onde se olha. Nos quadros que enfeitam a parede, na mobília, nos copos, no papel que é posto na mesa. Poderíamos dizer tratar-se de um bar temático.
Para os que são do Rio, muita coisa ali parece bastante divertida e na realidade é sempre bom ser homenageado como cidadão da Guanabara.
Não posso negar, no entanto, que todo o preparo cênico do lugar, do cardápio aos mínimos detalhes, foram feitos a partir de uma extensa análise sobre o jeito de ser do carioca, a gastronomia da cidade e a instituição botequim.
É claro que independente do nível de profissionalismo de tudo, nunca o lugar será um legítimo botequim com jeito de Rio. Até porque não se está no Rio.
A influência do Pirajá nos novos botequins do Rio e São Paulo
No entanto, o Pirajá, com seus já 14 anos de sucesso, conquistou o seu próprio espaço. Muito além, influenciou na abertura de outros bares semelhantes em São Paulo e mesmo em terras cariocas. É isso mesmo! Não é que o Belmont, depois da remodelação realizada em 2002, ficou muito parecido com o Pirajá?
Posso afirmar, portanto, que não se trata de um lugar artificial e sim com sua própria personalidade. A intenção, no fim das contas, não é ser um botequim carioca e sim o Pirajá, o bar com a esquina mais carioca de São Paulo. Seja lá o que isso signifique.
Vale atentar que, na época da inauguração da casa, no ano de 2008, o tema botequim ainda não estava nas principais pautas de atenção dos cariocas.
É como eu sempre digo por aqui no Diários, em parte o processo de retomada de botequins no Rio passou por outras cidades como São Paulo e Belo Horizonte. Antes de efetivamente ser abraçado de forma aberta pelos cariocas.
Clima agradável e chope cremoso
Sentei numa das belas e confortáveis cadeiras de madeira com acolchoamento em couro vinho. Elas me lembraram muito as cadeiras do Villarino, no Centro do Rio de Janeiro. Ali relaxei. Bastaram dez segundos para que começasse, então, a realmente curtir o lugar.
Ainda mais quando o garçom pôs sobre minha frente um chope impecavelmente cremoso, simplesmente maravilhoso, como só poucas casas no Rio sabem servir.
Era a tarde de um domingo de sol e eu e Silvia estávamos ali a fazer um programa pós-parque. As caixas de som do ambiente interno (com ar-condicionado) jorravam sambas clássicos a um volume audível.
Para um carioca exilado como eu aquilo foi à glória. Com o calor do dia preferimos dispensar o simpático ambiente externo com mesinhas sobre a ‘calçadinha’ de pedras portuguesas de Pinheiros.
A primeira caldereta foi num gole de sede e vontade profunda de chope. Depois que satisfiz minha desejo de cerveja, permiti ao meu olhar vagar ao redor, a perder-se nos detalhes.
Os caras fizeram um grande trabalho por ali. A começar pelo belíssimo chão, que remete de fato aos bares antigos do Rio. Igualmente o grande balcão, que não poderia deixar de ter um pequeno anexo onde se pode beber em pé.
Isto é um item essencial de qualquer botequim carioca ou de qualquer bar que queira homenagear um botequim carioca. O paulistano não tem o costume de beber em pé no balcão, como o carioca.
Talvez seja uma das coisas que mais eu sinta falta de minha cidade natal. Ali no Pirajá, porém, três amigos batiam um alegre papo, em pé, junto à bancada. Uma cena bem carioca.
Homenagem à gastronomia carioca
As referências aos botequins clássicos do Rio de Janeiro não ficam somente no salão. O cardápio da casa faz algumas homenagens diretas e indiretas à gastronomia carioca.
Nas Abrideiras, Empada de Camarão e Caldinho de Feijão. Nos Sandubas, o Cervantes (Pernil com Abacaxi). Há ainda pedidas típicas como sardinha, bolinhos de bacalhau, carne seca e o célebre frango a passarinho. Nos principais: o arroz de camarão, o escondidinho e os pratos de filé como o Oswaldo Aranha.
Rosbife de Língua
Entre todas as opções, a que mais me tentou foi o Rosbife de Língua: fatias de língua de boi cortadas finamente. Este é um prato típico tanto no Rio como em São Paulo, hoje, porém, já nem tão popular na Guanabara.
Não estou certo de onde a equipe do Pirajá se inspirou na criação do prato, mas ele é muito semelhante à Língua a Espanhola servida no Lamas, tradicional casa do bairro do Flamengo, no Rio.
Na casa de Pinheiros, a Língua é servida acompanhada de cebolas e tomates refogados, além de rúcula. É uma grande pedida, pude constatar assim que provei a primeira fatia. Os vinte reais cobrados me pareceram justos para a porção. Um ótimo início de conversa num longo dia de comilança.
Filé à Milanesa Aperitivo
Acabei esticando as bocadas com a chegada de dois amigos que se juntaram a nós à mesa. Foi uma boa oportunidade de provar mais alguns petiscos da casa. Seguimos com o Filé à Milanesa Aperitivo (R$ 20,00).
Em São Paulo a roupagem ficou mais enfeitada. A porção é servida sob molho de queijo gorgonzola, nada leve, e espetada com palitos gigantes. Eu particularmente prefiro o milanesa simples para ser apreciado, no máximo, com uma mostarda e sem palitos gigantes. Mas isso é questão de gosto. Meu amigo Marcelo devorou com vontade o Milanesa enfeitado do Pirajá.
Carne Seca na Farinha
A fome coletiva nos permitiu solicitar ainda uma porção de Carne Seca na Farinha (R$ 33,00) que estava excelente a um padrão quase comparável com o top das carnes secas para mim: a da Academia da Cachaça, no Leblon.
Além de muito bem desfiada, a carne seca também não estava muito gordurosa. Para completar, a farofa que vem misturada também estava gostosa.
Nem tanto pela comida, que eu achei a um preço justo, a grande armadilha financeira do Pirajá é o seu chope delicioso, um suquinho cremoso que se toma infinitamente, sem que se perceba que a quantidade de copos não cabe no nosso bolso.
Beber chope é uma brincadeira cara! Por isso minha opinião é: ali não é lugar para se beber e ficar beliscando uma tarde inteira. Vá, tome uns chopes, coma uma entrada, um prato principal e se mande, antes que o garçom traga a próxima caldereta.
Bar Pirajá Faria Lima
Endereço: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 64 – Pinheiros. São Paulo (SP).
Horário: segunda das 12h às 23h. Terça e quarta das 12h às 00h. Quinta das 12h às 01h. Sexta e Sábado das 12h às 02h. Domingo das 12h às 19h
Contato: (11) 3815-6881
Para saber mais:
instagram.com/barpiraja
piraja.com.br
Gostou das dica? Então der um pulo lá não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.
Encontre outras dicas de destinos em São Paulo em: comer e beber em Sampa
Ontemconversava com um Amigo sobre qual dos dois bares e mais antigo , ou “Original” ou o Pirajá. Podem nos ajudar ??
Grato francisco
Olá Francisco. Tudo bom?
Os dois bares são de um mesmo grupo, a Companhia Tradicional do Comércio. O primeiro que eles abriram foi o Bar Original, em 1996. Logo em seguida eles inauguraram o Pirajá, em 1998. Espero que tenha ajudado.
Obrigado pelo comentário!
Abs,
André Comber