Sábado de sol intenso, olhei para o mar da Baía de Guanabara e me deu uma vontade danada de ir comer um cabrito no Cachambi. Na verdade a ideia era ir atrás da famosa costela de boi no bafo do Cachambeer. No entanto, foi a carne do outro animal que nos roubou a atenção.
Numa rua relativamente calma e cheia de simpáticas casinhas fica este botequim que já se tornou um clássico na cidade. Os atuais sócios compraram o estabelecimento em 2002. Na época o espaço era apenas um bar decadente da área.
Mudaram o nome, colocaram uma chopeira, dois fornos e mandaram ver no bafo. O negócio pegou rápido e o Cachambeer fez e faz sucesso. Hoje é uma das casas com maior volume de venda de chope Brahma na cidade (cerca de 70 barris de 50 litros / mês), sendo famosa por sua carne no bafo.
Simpatia da equipe da casa
Não há letreiro e não fossem os dois grandes fornos pretos na calçada e um conjunto de barris de chope que ocupam o espaço de um orelhão, o lugar passaria despercebido como mais um simples boteco da Zona Norte. Não se enganem, não é tão simples assim. Por trás de tal singeleza se encontra um grande bar. Daqueles que a gente não esquece e dá vontade de voltar.
Estava a anotar uns troços quando se aproxima uma alegre figura a perguntar o que eu fazia. Gerou-me surpresa o fato. Não vou abrir restaurante, nem roubar menu, retruquei a fala dele quando questionou-me, de brincadeira, o porquê de eu estar a anotar o cardápio. “Bom chope, gelado e bem tirado”. Eu acabara de escrever no bloco de capa dura e de cor vermelha – meu companheiro inseparável das jornadas gastronômicas.
Expliquei o motivo ao seu moço e a partir daí eu perdi minha invisibilidade. Zé Soares, o gerente, é uma figura especial. Atendeu-nos com muita gentileza. Independente de saber ou não que eu escreveria sobre o bar, reparei no ótimo tratamento que ele oferece a todos os seus clientes. Preocupado e o tempo todo atento. Se der mole, senta à mesa e tudo para conversar. Oferece chope, conta piada e todo mundo só lhe chama por Zé.
Cardápio variado
O cardápio da casa é quase um banner cheio de cores e sabores. Cada prato é acompanhado ou intitulado com tiradas engraçadas. Algumas nem tanto, é verdade. Mas por serem ruins, também são engraçadas. Ali está anunciado um dos sucessos do momento, o Infarto Completo (R$ 51,90), com a chamada “comidão absurdo foi matéria no Fantástico…”.
Trata-se de uma enorme travessa com a reunião de gostosas insanidades, como torresmo, coração de frango, carne seca e de sol, aipim frito, linguiça calabresa, farofa e manteiga de garrafa.
Nossa amiga Mônica salvou a rodada de entradas com dois bons pedidos. O primeiro foi o Feijão Amigo com Torresmo, queijo ralado e salsinha (R$ 5,90). Pelo preço, o tamanho (uma vasilha) humilha qualquer semelhante que eu já tenha provado nas bandas da Zona Sul. Feijão bem temperado, gostoso mesmo.
Melhor cabrito do Rio
Passadas as preliminares, decidimos nos explodir de comer o cabrito. Um Explode Cabritão (R$ 58,90) foi solicitado e não demorou muito a surgir, imponente, sobre a mesa. Abrimos espaço entre as tulipas de chope e fizemos silêncio para admirar a travessa com aquele belo pedaço de carne, cheio de cebola por cima.
Três linhas equivalem ao tempo de três minutos em que todos ficaram calados, degustando, carnívoros, os pedaços do animal que se desmanchavam a cada garfada. Minto, escutava-se apenas os gemidos da suruba gastronômica.
Foi inevitável imediatamente me remeter ao Nova Capela, famosa casa da Lapa, também conhecida pelo cabrito. Só de pensar na possibilidade de ter provado um que chega aos pés do Capela, já diz tudo. Mas o fato é que fiquei bastante balançado. Qual seria, agora, o melhor cabrito do Rio?
Dispensei os acompanhamentos e fiquei a ticar a carne como um petisco monumental, até que os últimos pedaços soltassem naturalmente do osso. Até que sobrasse somente o osso. Senti inveja do cachorro que iria roer aquele osso depois.
Só para viver novamente aquela experiência, eu voltaria ao Cachambi, esqueceria todos os parágrafos antes da primeira garfada e me ateria apenas ao cabrito. Nossa opção, com batatas coradas e arroz de brócolis, para quatro pessoas, saiu a R$ 52,90.
Costela de boi
Almoço esticado, o dia foi além. Senti uma mão em meu ombro. Era o Zé Soares. “Gostou?” Senti vontade de lhe dar um abraço, levantar, chamar todos da mesa para uma salva de palmas. Não faz o meu perfil. Discreto que sou, preferi ater-me ao educado parabéns. Após nossos elogios, Zé disse que ia trazer uma pequena prova de costela para apreciarmos, por conta da casa.
Ela veio: A pequena prova de costela, quem sabe no caminho entre a cozinha e a mesa, se tornou uma grande peça. Dessas que dá vontade de pendurar na parede. Nosso constrangimento com aquele presente durou até começarmos a devorá-lo. Pelo cardápio, uma costela no bafo simples, para duas pessoas – que estimo nos foi oferecida – sai a R$ 53,90.
Eu olhei para cara do meu irmão e cúmplices na esbórnia, decidimos segurar o joelho mais pra frente. As tantas opções tentadoras exerciam uma pressão forte sobre nossos corpos e o estômago era forçado a ganhar elasticidade extra na espera da comida por vir.
Os preços da casa são bastante justos. Mesmo se pagássemos pela costela, para os três casais, a diferença não teria sido muita. O tamanho da porção é considerável e o que dá para dois, alimentam quatro. No fim das contas o almoço no Cachambeer foi um programão que não assustou os bolsos.
Preparo lento no bafo
Sobre a comida, o segredo está no conjunto tempero + bafo. Depois de marinar por doze horas num molho de ervas as peças de carne assam por mais cinco no forno. Portanto, não perca tempo com bolinhos e pastéis e vá logo ao que interessa: as carnes feitas no bafo.
Legal é ficar beliscando enquanto se curte o bom chope da casa. Diante ao eficiente serviço do botequim pode estar certo de que ninguém fica muito tempo com o copo vazio. Com tanta loura gelada até se esquece do calor.
A tarde caiu junto com uma chuva abafada quando terminamos de comer a costela. Após esta segunda rodada de suruba, já não seria mais humanamente possível pedir o joelho de porco. Ficará para próxima, numa nova tarde e com um novo título: Explode Joelhão.
Agradecemos ao Zé Soares mais uma vez a pequena prova de costela e após pagarmos a conta, ele ainda nos trouxe uma rodada de saideiras “por conta da casa”. É claro que ninguém recusou.
Cachambeer
Endereço: Rua Cachambi, 475 lojas A e B – Cachambi. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: de terça a sábado das 12h à 00h. Domingo de 12h às 18h.
Contatos: (21) 3042-1640
Para saber mais:
instagram.com/cachambeer
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