Uma noite curtindo os desfiles dos desfile dos blocos de enredo na Estrada Intendente Magalhães e as opções de comidas de rua típicas do Rio de Janeiro.
Fiquei um pouco desanimado por deixar de ir a alguns blocos de rua que eu adoro como o Céu na Terra e o Sassaricando, de manhã e de tarde. Eu tinha de me preservar para acompanhar o desfile dos blocos de enredo na Estrada Intendente Magalhães, no subúrbio. No entanto, a verdade é que eu achei o carnaval de Campinho o máximo.
Do desânimo inicial logo fui tomado pela alegria de estar ali, testemunhando uma folia que há tempos não vivia. A sensação de sacrifício terminou assim que desembarcamos do táxi, junto a UPA de Madureira.
Boa organização
Foi uma surpresa ver o bom nível de organização, das diferentes esferas públicas, na área. Boa iluminação, guardas municipais controlando os acessos e o trânsito. Os PMs fazendo a segurança e outros agentes organizando o fluxo de pessoas ao longo das pistas.
Sem dúvida, as pequenas e desconfortáveis arquibancadas estão longe de serem suficientes ou dignas da importância da festa que ali ocorre. Mas por outro lado, a infraestrutura discreta também nos remete aos carnavais de antigamente, onde a população se mantinha próxima a passagem das agremiações.
As pessoas cruzam a área de desfile, tudo certa hora parece um pouco caótico, mas acaba por funcionar. Espectadores e agremiações ali se misturam e se agregam. Tudo está muito junto. É uma verdadeira festa popular.
A Estrada Intendente é formada por quatro faixas de rolamento (duas em cada direção, separadas por uma pequena divisória). O desfile ocorre em um dos lados. Outra pista fica livre para a circulação do público. Com as poucas arquibancadas é possível assistir aos blocos (e no domingo, segunda e terça as escolas do grupo C, D e E) enquanto se caminha e se conversa com os amigos. Nesta via de pedestres acontece uma festa paralela, que eu adorei.
As barraquinhas de comida
Diversas barraquinhas de comida ficam dispostas ao longo, onde o povo faz o seu próprio desfile por ali. São muitas famílias num clima alto astral e aconchegante. Foi como estar num carnaval de cidade de interior. Pais, mães, crianças e amigos passeando ao longo da rua e comendo nas barracas. Ao lado de tudo isso ainda tinha o desfile.
O desfile é como um complemento a toda festa. Parece importar mesmo é a reunião de tudo, o momento em si. O clima é ótimo, civilizado e pode-se curtir numa boa toda a festa, a observar os foliões cruzando por nós, o povo fantasiado e os espetinhos de frango empanado.
Foi incrível ver o comprometimento dos foliões da região com a confecção de fantasias. Muito mais do que estar ali para assistir a um bloco, ou uma escola, a população vai a Intendente pelo evento como um todo, para se reunir e celebrar, no que é uma das poucas opções de festa numa região da cidade que carece de parques e de equipamentos culturais. Para muita gente o carnaval do Centro é uma alternativa distante e desta forma a folia da Intentente tem os seus próprios e fantásticos contornos.
Blocos de enredo
Não confundam blocos de enredo com blocos de embalo – estes últimos, os blocos de rua que hoje lotam as áreas do Centro de Zona Sul da cidade. Os blocos de enredo, na verdade, seguem a estrutura das escolas de samba. Têm eles – como o nome já nos revela – o enredo, mas também regras semelhantes as das escolas nos desfiles, com alegorias, alas, comissão de frente etc.
No enorme mapa do carnaval do Rio de Janeiro, os blocos de enredo ligados a Federação dos Blocos Carnavalescos do Estado do Rio de Janeiro estão abaixo das escolas de samba do grupo C, D e E (vinculadas a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro). Na Estrada Intendente Magalhães desfilam os blocos de enredo do grupo II (com dez agremiações). O grupo I se apresenta na Av. Rio Branco e o grupo III no bairro de Bonsucesso.
Apesar de toda a dificuldade financeira e logística que enfrentam, os blocos de enredo entram com toda a energia para desfilar. Desenvolvem improvisos criativos para fugir dos percalços. Foi o caso da bateria do Bloco GRBC Simpatia do Jardim Primavera. Um único integrante, o Paulo, era o responsável por todo o setor de tamborins, utilizando uma fascinante engenhoca. É indisfarçável a pobreza das alegorias, mas realizar aquele carnaval é quase um milagre para muitas daquelas agremiações. Desta maneira é admirável o trabalho que fazem.
Bate-bolas
Adorei assistir aos blocos de enredo, mas particularmente, para mim, os destaques da noite foram os grupos de bate-bolas, uma tradição que permanece viva, muito viva, no subúrbio. Diga-se de passagem, o carnaval do Rio tem uma cor completamente distinta naquele lado da cidade. A sensação que tive, ao deixar Campinho, foi de que por lá à questão de se doar, e se preparar para festa é levado muito mais a sério. Não apenas pelos fantásticos figurinos dos bate-bolas, mas as dezenas de pessoas fantasiadas, cada uma de maneira mais criativa que a outra. Foi muito legal ver aquilo tudo.
Gastronomia carioca
As barracas de comidas são um programa a parte. Pratos típicos da gastronomia carioca e que aos poucos vem desaparecendo das mesas de outras regiões da capital como o angu a baiana e o mocotó eram ali amplamente ofertados. Mas o sucesso da noite parecia mesmo serem os espetinhos de frango frito empanado.
A iguaria é praticamente uma espetada no coração. Fiquei tentado, mas confesso que evitei o frango empanado – ainda tenho três noites de desfile em Campinho para decidir se o enfrento. Decidi por uma opção mais tranquila – eu estimei: espetinho de carne passado na farinha e num molho a campanha batido (de aspecto duvidoso).
Foi uma pena começar a chover mais forte certa hora. Do contrário teríamos ficado por lá a noite inteira. No fim das contas eu saí de Campinho com vontade de voltar no ano que vem. Hoje (domingo), segunda e terça retorno a Intendente, mas com a missão de julgar os sambas enredos das Escolas de Samba do Grupo C, D e E. Não terei tempo, nem poderei eu, passear no desfile paralelo do povo. Em outra oportunidade certamente o farei.
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