Foi no balcão do Bar Original, em Moema, que eu, carioca de berço e criação, tive de aceitar que nos dias de hoje bebe-se um chope melhor em São Paulo do que no Rio de Janeiro.
É claro que os botequins cariocas ofertam coisas intangíveis a qualquer casa paulistana. Mas o carioca não trata essa bebida com o carinho que vejo sendo tratada em diversas casas de Sampa. Há algumas exceções nas terras da Guanabara, porém o problema está no fato de serem justamente exceções.
O botequim tem um peso e uma dimensão na cultura carioca infinitamente maior do que em São Paulo. Tanto é assim que muita gente chega a afirmar que a instituição botequim é uma coisa essencialmente carioca de tão impregnada que está na cultura da cidade.
Não concordo com isso, mas sem dúvida é difícil não assumir que o botequim, por ser um ambiente de descontração natural é a cara do Rio de Janeiro.
Porém São Paulo tem as suas casas e o seu próprio estilo de botequim. Muitos deles são fantásticos. O que muda lá é um pouco o conceito de descontração natural, profissionalismo e o caldeirão de culturas que levou a formar a culinária básica das cozinhas botequineiras.
Anteriormente era uma mercearia
Uma das casas que admirei em Sampa foi o Bar Original. Estou certo de que muito em parte esta boa impressão seja pelo fato de que o lugar foi montado em cima do que anteriormente era uma mercearia (a Mercearia do Seu Antônio).
Inteligentemente, os sócios do Original, ao alugar o imóvel, mantiveram toda a estrutura, como o chão de azulejos hidráulicos, o lindo balcão de mármore e o conjunto das geladeiras de madeira. É isso que dá uma cara clássica a este bar relativamente novo (foi inaugurado em 1996). É importante frisar: não fosse ali, ou abrissem uma filial, O Original deixaria de ser propriamente original.
Junto do ambiente de mercearia, a casa foi concebida para ser uma grande homenagem aos botequins de São Paulo. Agrega em seu cardápio alguns quitutes inspirados em petiscos tradicionais de outros bares da cidade. Foi justamente lá que surgiu o conceito de Botequim Chique, copiado e disseminado como praga tanto em São Paulo, como no Rio.
Melhor chopp Brahma do Brasil
Sentamos no balcão eu e meu sócio Xaxá. Nas pernas e no estômago carregávamos o peso de um dia inteiro de jornada gastronômica: Sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau no mercadão, croquetes de carne e filé no Moraes, queijo Grana Padano e salames no Giba. Era um milagre ainda estarmos dispostos a mais umas rodadas, mas a vontade de conhecer este famoso bar da cidade falou mais alto.
Na primeira golada de chopp foi como se tudo zerasse. Senti-me como renovado e relaxado a ponto de dar o braço a torcer: “Xaxá, acho que esse é o melhor chopp Brahma do Brasil, depois do Adonis em Benfica, é claro”. Como bom carioca não poderia deixar o título de melhor chope do país com um bar paulistano, mesmo assumindo as consequências de minha total parcialidade neste momento.
O segredo do chopp está no carinho que lhe é dado: A começar pelas antigas torneiras alemães reformadas, uma beleza. Os barris de chope ficam 24 horas num refrigerador antes de serem conectados a máquina. A quantidade de gás é muito bem cuidada e o tirador, um profissional de merecer aplauso. O colarinho é cremoso, maravilhoso. Os copos nunca saem da torre sem o colarinho, o que seria um pecado mortal.
Inspiração para o Boteco Informal
Israel também nos citou o Informal, a casa carioca que imitou o estilo do Original no Rio. É verdade, estava claro de onde surgiu o conceito do Informal! Mas onde estaria o balcão de acepipes que vi na foto de um guia de Botecos de São Paulo (da Istoé) que meu amigo Pedro me emprestou?
A capa do guia é justamente um belo e grande balcão de petiscos do Original. Não há mais o tal balcão. Deixaram de lado os petiscos para abrir espaço para mais lugares. Que pena!
As opções que antes ficavam expostas, no entanto, estão no cardápio. Mesmo já tendo comido tanto durante o dia, nos esforçamos para pedir três belisquetes enquanto seguíamos com a conversa: Salame, champignon e pernil (R$ 23,00).
É interessante como em dado momento, o estilo paulistano de ser botequim vai inspirando novas casas no Rio, depois dos botequins cariocas terem influenciado muitos botecos paulistanos. É uma troca saudável.
Não há dúvidas de que o modelo do Bar Original de Botequim Chique foi um enorme sucesso. Aquela casa foi a primeira do grupo que depois abriu o Astor e hoje também é dona da célebre Lanchonete da Cidade.
O Bar Original poderia ser mais facilmente adaptado a terras cariocas, mas perderia o charme de estar no espaço onde um dia foi a tal mercearia. O pior é que o espaço é alugado e existe sempre a possibilidade de que alguém decida vender o terreno para dar lugar a mais um espigão na cidade.
Intercâmbio de petiscos
Outra curiosidade legal de lá é haver um intercâmbio de petiscos com outros bares de São Paulo. É o caso da coxinha de galinha trazida do Frangó em troca do Besteira à Milanesa do Original. Nossa rodada de beliscos chegou. Um destaque especial vale ao pernil: Delicioso, molhadinho e bem temperado. Já tinha perdido a conta de quantos chopes bebi.
Olhei o relógio e me assustei com o passar de uma hora da manhã. O local ainda estava cheio e havia gente chegando atrás de chope. Para nós já era hora de partir. Aquele petisco encerrou mais do que suficientemente o expediente de comes do dia.
Solicitei apenas uma última caldereta para fechar a longa jornada de sábado. Aqui escrevendo este texto dei por mim que não tirei uma foto do chope da casa, logo que sai da torneira. Falha minha, mas na verdade é difícil resistir a dar uns goles naquele chope de cremoso colarinho assim que ele chega em suas mãos.
Bar Original
Endereço: Rua Graúna, 137 – Moema. São Paulo / SP.
Horário: segunda e terça das 17h às 00h. Quarta e quinta das 17h às 01h. Sexta das 17h às 02h. Sábado das 12h às 2h. Domingo das 12h às 19h.
Contatos: (11) 5093-9486.
Para saber mais:
instagram.com/baroriginal
baroriginal.com.br
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