Entrei no Real Chopp, em Copacabana, com certo cuidado como sempre faço quando chego a um botequim que pouco frequento. Há de se ter respeito com este ambiente gastronômico e cultural. Geralmente o povo cativo é desconfiado com forasteiros.
Quebrando a desconfiança
O moço do cotovelo encostado no balcão, a tomar uma cerveja Original, me olhou estranho. Depois de verificar não haver nenhuma mesa vaga na calçada, eu tive de me ater à espremida parte interna, a buscar um canto que me permitisse um chope.
Encontrei uma quina defronte a máquina de café e justo ao lado do barrigudo. É um balcão comprido, bom de ficar. Na verdade é até melhor do que lá fora, onde há muito barulho. No entanto meu corpo pedia um sentar. O cansaço me batia após um dia inteiro.
Olhei para o atendente fazendo eu cara de quem vai ali todo dia. “Fala aí, tudo bem? Como vão as coisas?”. Disse com certo cinismo. “Tudo certo”. Respondeu ele friamente, completando o curto diálogo ao perguntar o que eu queria. Pedi um chope.
O barrigudo sabia que eu não era de lá. Olhava-me de lado, um pouco chateado, talvez a pensar “o que afinal de contas este mala está fazendo no meu bar!”. Os clientes assíduos sempre se acham donos do pedaço. É normal no Rio. Com jeitinho e devagar a gente vai quebrando a desconfiança.
512 Urca-Copacabana
Pouco antes eu tinha saltado do 512 no ponto perto da esquina da Rua Barata Ribeiro com Rua Paula Freitas. O 511 e o 512 são duas das linhas mais civilizadas da cidade. Não à toa, afinal servem de vitrine do transporte público para estrangeiro ver. Jjá que o circular vive a levar e trazer turistas do Pão de Açúcar para Copacabana.
Na minha condução, por exemplo, só haviam de brasileiros eu, o ‘piloto’, e a trocadora. Combinei com o Pedro às vinte horas no Real Chopp. Eu gostava mais quando o bar ainda se chamava Real Sucos. Um nome bastante original e engraçado para uma casa que tem na cerveja o principal produto de venda. Real Chopp ficou muito óbvio.
Bom chope, nada extraordinário, mas dá para nos deixar feliz. Olhei em volta e nada de mesas vagas. O Pedro não demorou. Admiro as pessoas pontuais, até porque eu sou pontual. O que para um carioca significa uma faixa de aceitação de atraso de meia-hora.
Balcão de botequim
Um pouco além ao lado pintou um espaço mais confortável na ponta do balcão. Deixamos o barrigudo em paz e ainda descolamos dois bancos de madeira. Por entre o vidro do balcão dava para ver diversas opções interessantes como carne assada, pernil, batata calabresa, mexilhões e polvo a vinagrete.
Solicitamos uma porção do polvo (100g a R$ 15,00). Nunca é barato, porém alguns valem mais do que outros. O do Real Chopp não me pareceu valer apesar de ser mais barato do que o da Adega Pérola.
Faltavam apenas dois dias para terminar o intenso ano de 2010. Quase tudo pronto para a noite de réveillon e me dei o direito a uma cerveja de despedida com meus caros amigos. O polvo não me agradou. Guguta chegou. Vinicius conseguiu um habeas corpus e estava a caminho. Nada de mesa.
Cadê as cadeiras?
Comentávamos os três sobre tal dificuldade em arrumar um espaço na calçada enquanto terminávamos a porção do molusco. Pedro viu uma mesa aparentemente vaga logo em nossa frente. Ele ia sentar, quando um senhor alto e de voz grossa, bem ao nosso lado, intercedeu. Encostou seu copo de uísque sobre o vidro. Já não restava muito gelo, nem muito uísque por ali. Tinha cara de que ia pedir mais uma dose.
Antes da nova dose, ele disse: “Tem um cara sentado aí. É que ele foi ao banheiro”. “Vocês têm que falar com o Zé. É com Zé que vocês têm de arrumar mesa. É só falar com ele. Olha lá, ele está ali de camisa azul.” Ah tá, então tem que falar com o Zé. Sem Zé ficamos eu e Pedro já há uns quarenta minutos em pé, no balcão, nos achando os malandros da área. Agradecemos a dica e então falamos com o tal Zé, que nos arrumou uma mesa em dez minutos. Vinicius deu sorte, chegou quando já estávamos sentados.
Fígado acebolado e Kibinho de Bacalhau
Vi um prato com fígado no cardápio e perguntei ao garçom se era possível trazer uma porção aperitiva e acebolada. Sim, respondeu para nossa alegria, e principalmente para a felicidade do Guguta, um devorador da iguaria. Por 25 reais, o pedido veio caprichado, a carne estava macia, deu pra ver que era fresca. Comemos tudo, de gulosos.
Chamou-me a atenção o Kibinho de Bacalhau (porção com oito a R$ 12,00). O amigo que nos atendia (bom serviço) esclareceu: O petisco foi criado para o festival Comida di Buteco. Achei ótimo! Nunca poderia supor que quibe combinasse com bacalhau. Um bom pedido por um preço bem em conta. Vale à pena.
Ainda sobre o Kibinho o perceptivo Guguta atentou ao fato de que é uma boa solução para não desperdiçar as sobras das porções de lascas de bacalhau do balcão. Petisco realmente acertado.
Uma rodada de pastéis de lagosta (unidade a R$ 3,00) encerrou a nossa fome. Se o recheio de lagosta impressiona a primeira vista, o sabor deixa a desejar. Nada demais. Ficaria somente no Kibinho de Bacalhau e fígado.
Uma metonímia de Copacabana
O Real Chopp também é uma casa de apreciadores de outra bebida: o uísque. Reparei isso ainda nos tempos do balcão, lá no inicio do texto. Diversas garrafas com nomes de clientes preenchem as prateleiras do bar.
Se o cara alto de voz grossa estava para pedir outra dose, logo que nos intercedeu sobre a questão da mesa, já devidamente instalados nas plásticas cadeiras, agora uma turma de uns cinco coroas ria e falava alto em nossa vizinhança enquanto esvaziavam com vontade uma garrafa de Red Label.
Entre eles um barbudo intercalava o ‘On The Rocks’ com uma caixinha da água de coco Kero Coco. Se levarmos em conta a reunião de tipos curiosos, o Real Chopp é um lugar fascinante. Uma metonímia de Copacabana.
Com o cardápio também em inglês e wifi liberado, o Real Chopp parece ter compreendido bem o potencial econômico dos turistas. Afinal, o que não falta ali à volta são hotéis e gringos em busca da tão falada comida de botequim.
Encerramos nossa experiência no bar da esquina com mais umas rodadas do chope digno da casa.
Real Chopp
Endereço: Rua Barata Ribeiro, 319 – Copacabana. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: de terça à domingo das 8h às 01h
Contatos: (21) 2257-2645
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