Um bem refrigerado retorno ao Bar Luiz

BAR PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONOMICA CARIOCA. O BAR LUIZ FOI UM BOTEQUIM HISTÓRICO DO RIO DE JANEIRO, FAMOSO POR SUA COMIDA ALEMÃ E O PRIMEIRO A SERVIR CHOPE NA CIDADE.

A segunda novidade que eu mais gostei no Bar Luiz foi o ar-condicionado. Não é propriamente uma novidade. Eu é que me ausentei por um longo tempo. Os velhos ventiladores de parede, de ferro bruto, ainda estão por lá, como uma lembrança dos tempos em que o bar era um dos mais quentes da cidade. O ar-condicionado caiu muitíssimo bem. Ainda mais naquela terça feira pegajosa, em que o calor se arrastava por nossa pele, carregando sudorese e nos enchendo de desconforto.

Combinei com o Sevalho as 18h10m, mas tomei um ‘chope de cadeira’ até quase as dezenove. Não me importei nem um pouco com o atraso de meu amigo. Por mim poderia ficar naquele bem condicionado ar o resto da noite.

De certa forma foi bom estar sozinho por um tempo, no meio do salão de estilo Art Deco. Já está um pouco descaracterizado, mas ainda bem preservado. Fiquei a observar o movimento dos garçons e clientes. Além disso, estava muito convenientemente acompanhado de um fantástico chope Xingu. Esta foi a terceira novidade que mais gostei.

Bar Luiz Rua da Carioca
O velho salão ainda totalmente original
Bar Luiz Rua da Carioca
Os ventiladores de teto na parede
Chope Xingu

Eu já era um admirador da cerveja Xingu, mas o chope até então desconhecia. Que perda de tempo! Grata surpresa. No primeiro gole eu já me tornei fã. Bebida encorpada, de cor preta e gosto não muito adocicado. Como eu prefiro.

Concordando com meu outro amigo que naquele dia deu a graça da presença, o Thiago, achei melhor do que os pares da Brahma. Tanto o chope preto comum, como o elogiado Black. Este último, por ser um pouco mais doce, acaba enjoando. Assim constatei que Bar Luiz continua ofertando o melhor chope preto da cidade.

Foi ótimo verificar que a casa conseguiu libertar-se das garras da Ambev e deu a volta por cima. Isso mostra que não é preciso estar quase que subordinado as políticas de marketing e produtos daquele monopólio para sobreviver no difícil mundo gastronômico carioca.

Mais do que isso, é uma demonstração de que a marca Bar Luiz não precisa da Brahma – por muitos anos o chope oferecido no estabelecimento. Ainda mais para quem tem Heineken como uma das atrações principais. Essa foi à primeira novidade que mais gostei da casa.

Bar Luiz Rua da Carioca
O bolo de carne é um clássico do cardápio
Uma remodelada no velho Botequim

Parece que o centenário bar resolveu mesmo mudar para o bem e rejuvenesceu com isso. O público está bastante variado, em distintos estilos e faixas etárias. Não encontrei os velhos garçons, mas a turma que estava lá dá conta, muito bem, do serviço.

O cardápio continua igual, e o mais importante, bom como sempre. Ao menos constatei isso ao pedir o tradicional Bolo de Carne (a unidade é vendida pelo justo valor de R$ 8,00), já chegado o Sevalho. Ótima opção para começar a brincadeira.

Diferentemente do Bar Brasil (cozido e com molho – também um ótimo bolo), o Bolo de Carne do Luiz é frito e sequinho. Um meteorito crocante por fora e com carne macia e mal passada por dentro. Uma delícia.

Voltando as bebidas: mais um sinal de mudança saudável para casa é a oferta de três diferentes marcas e estilos de chope – todas do guarda-chuva da Femsa. O Sol (claro e leve. Eu não curto muito e acho inferior ao Brahma claro), o da Heineken (Claro, porém um pouco mais amargo. Simplesmente adoro) e o já por mim elogiado Xingu.

O preço me pareceu muito interessante, principalmente pela oferta do famoso Garoto (200ml) a R$ 2,50 (menos para a Heineken que sai a R$ 2,75). A Caldeireta (400ml) sai a R$ 5,00 (Heineken R$ 5,50).

Bar Luiz Rua da Carioca
Um fantástico chope Xingu
Bar Luiz Rua da Carioca
Salsichão com Salada de Batatas
Desde 1887

O Bar Luiz está no atual endereço da Rua da Carioca desde 1927, mas foi inaugurado por Jacob Wendling, filho de suíços, em 1887, na Rua da Assembléia – com o nome “Zum Schlauch”.  Foi um dos primeiros a servir chope na cidade e está sob o comando de uma mesma família há 123 anos. A interessante história da casa não cabe aqui neste post de tão longa. Para quem quiser conferir, vale navegar o site do bar onde é possível esbarrar com muitas curiosidades.

Com o Sevalho, Thiago e Chirs também à mesa, depois do Bolo de Carne, demos sequência ao nosso lanche com uma boa porção de Salsichão com Salada de Batatas (R$ 26,00). A intenção não era jantar, apenas distrair a fome antes de seguirmos ao lançamento da edição 2011 do Rio Botequim, logo ali perto, na Av. Passos.

Já estava quase na hora de irmos, mas a vontade era de ficarmos naquele aconchego. Já perdi a conta de quantas vezes fui a Bar Luiz. Desde sempre, desde que me conheço por gente, carregado primeiramente por meu pai e depois por minhas próprias pernas de jovem boêmio.

Se nos últimos tempos estive ausente, aquela terça-feira nem de longe me foi suficiente para matar a saudade. Entre um dos meus primeiros atos de 2011 estará, portanto, um novo e bem refrigerado retorno.

BAR PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONOMICA CARIOCA.

Bar Luiz

Endereço: Rua da Carioca, 39, Centro. Rio de Janeiro / RJ.

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editor do site Diários Gastronômicos

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0 Comments on “Um bem refrigerado retorno ao Bar Luiz”

  1. André, tinha uma outra coisa curiosa que não sei se ainda permanece no Bar Luiz. Lá, eles não serviam café, nem cafezinho, nem café expresso, e nunca, na minha leiga experiência gastronômica, entendi o porquê. Após uma boa comida, aprecio um bom café. E se pensarmos na estética do Bar Luiz, cuja simplicidade parece até tentar encobrir o seu belo valor, um bar em branco e preto não casaria bem com um café preto coado servido numa xícara branca simples? O Bar Luiz ainda resiste ao café?

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