Antigo botequim de esquina, o Goya Beira é um dos mais belos bares do Rio de Janeiro em minha opinião. Nasceu como mercearia e tornou-se um charmoso cantinho para bebericar.
O conjunto é perfeito: o cenário de cidade de interior do largo, as velhas portas de madeira, com sua cor descascada, mesinhas de mármore, chão em cerâmica vermelha, cadeiras saídas de um filme dos anos quarenta e as estantes ainda conservadas com um curioso relógio entalhado.
Já quase não consigo ver nele as horas. Que importa! Estava ali para me esquecer das horas e do tempo, da rapidez do tempo que nos impomos em nossas grandes metrópoles.
Um retorno sempre bem vindo à Santa Teresa
Desembarquei do ônibus as dezesseis e meia no caos que cerca a Rodoviária Novo Rio. Tinha combinado de encontrar meus irmãos e estava ansioso para revê-los e matar as saudades com umas rodadas de cerveja gelada.
Diversas obras rasgam o chão da velha cidade trazendo promessas de revitalização. É preciso revitalizar sem deixar de esquecer o passado.
Daqui a um tempo pouco reconhecerei parte do Centro. A Praça XI vai deixando os últimos sobrados, mal conservados, coitados. Mereciam quem sabe a chance de uma bela reforma.
Mais quarenta minutos e estava na casa de minha mãe. Tavo já me aguardava. Larguei a mochila e tomamos o rumo de Santa Teresa, de pressinha para pegar o por do sol.
Mas o sol escorregou de nossas mãos assim que saltamos no aconchegante largo. Ao menos deixou que suas mechas alaranjadas confortassem nossa visão. Em poucos minutos o colorido terminou de descer por trás da Igreja de Nossa Senhora das Neves e a iluminação artificial dominou o panorama.
No sossego do Largo das Neves
O Goya Beira já estava aberto. Costuma iniciar o serviço no crepúsculo. A pequena praça já era então ocupada de algumas famílias e amigos que conversavam sentados nos bancos. Um grupo de pessoas realizava uma filmagem. Não me admira estivessem ali, afinal o Largo das Neves é mesmo um cenário digno de cinema.
Não há pressa no Largo das Neves, na praça de vila antiga, vagarosamente ocupada de mais habitantes locais. Vendedores de rua montam suas barraquinhas.
“Onde andaria o abominável homem do Largo das Neves?”, questionou Tavo. Logo se juntaram a nós o amigo Guguta e meu outro irmão Rapha. Os quatro mal cabiam nas duas pequenas mesas de pés bambas que arranjamos para papear.
Goya Beira de sempre
Sentamos-nos junto ao visual, para curtir o movimento lá fora enquanto nos refrescávamos com cerveja Original gelada.
Fiquei mesmo admirado em ver que o cardápio do Goya Beira se trata do mesmo pedaço de papel o qual costumava fuçar, há anos atrás, numa época em que fui mais assíduo por ali. Bom voltar e ver que tudo continua igual.
Dentro do menu é possível encontrar algumas coisas para satisfazer a fome. As pizzas feitas na pedra são bem faladas. Outro pedido que sai muito por ali é a porção honesta de aipim com queijo.
Há pasteizinhos gostosos semelhantes aos servidos no Bar do Mineiro. Entre outros comes, petiscos como carne assada, carne seca e linguiça calabresa, que quebram um galho. Tudo a um preço ainda em conta.
Os tremoços
Dispensamos os pedidos mais substanciais para estar com a mais portuguesa das minutas: os tremoços. Quem me ensinou a gostar de tremoços foi meu pai. Ele tinha mania de espremer os caroços amarelos a distância, mirando em sua boca, para ver se acertava. Eu adorava aquela brincadeira.
Logo me vi repetindo a ação. Até hoje. O grande barato dos tremoços é justamente o ato de espremer os grãos para escorregá-los para fora da casca. Muito mais do que propriamente o sabor da iguaria. O grande pote que solicitamos não demorou a esvaziar-se enquanto nos divertíamos em comer.
Lá fora o Largo enchia-se de gente. Vi um rapaz trazer um atabaque. Logo se formou uma roda e o Jongo começou a rolar. Por um segundo cheguei a imaginar que estivesse num filme. Isso é brincadeira, não?
Não, é o Rio e sua gente fazendo o que sabem melhor: curtir a vida, estar em companhia dos amigos e ocupar a rua com uma alegria magistral.
Ficamos, então, entre tremoços e jongo, deliciosamente ocupados destes elementos trazidos por duas das mais fortes heranças culturais cariocas, a negra e a portuguesa.
O Jongo no Largo
Não sobraram grãos amarelos para jogar, mas o jongo seguia por lá. Ao esvaziar dos copos levantamo-nos das cadeiras para curtir um pouco o Largo.
Despedi-me do Goya Beira sacando mais algumas fotos do botequim para minha coleção de clássicos. Poderia ficar horas por ali a gastar as lentes de minha humilde máquina digital.
Seguimos o cheiro de churrasquinho. Um sujeito revirava-se ali para servir a tantos pedidos. Matamos uns três espetinhos: de carne, kafta e coração de frango. Senti falta do bonde. Até quando?
Depois de findada a última carne no palito, montamos numa Kombi para tomar o rumo de outros bares de Santa, numa sexta-feira que ainda renderá muitos futuros parágrafos.
Goya Beira
Endereço: Largo das Neves, 13 – Santa Teresa. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: de terça à domingo das 18h à 00h.
Contatos: (21) 2232-5751
Para saber mais:
instagram.com/bargoyabeira
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Encontre outras dicas de bares e restaurantes no Rio de Janeiro em: comer e beber no Rio
Poxa, tão poucos comentários. Acompanho seu blog a pouco tempo. As dicas são sempre bastante pertinentes. Não sou daqui do Rio e por isso uma boa dica vale mais que mil roubadas.
Legal saber que você está nos acompanhando Douglas.
Obrigado pelos elogios. É bom saber que nosso conteúdo tem agradado.
Esperamos te ver sempre por aqui comentando.
Abraços,
Dé Comber