Uma amiga outro dia me questionou: “você ainda não conhece a Leiteria Ita?”. Estava surpresa pelo fato deste tradicional boteco da região da República ter escapado de minhas jornadas gastronômicas.
Para dizer a verdade, o Ita já estava anotado em meu caderno de locais essenciais da gastronomia paulistana há tempos. No entanto, numa cidade em que pipocam sugestões a toda hora eu nunca consegui encaixar um tempinho para me dedicar ao programa. Principalmente porque queria ir em uma sexta-feira, dia em que são servidos os pratos de bacalhau.
Depois do puxão de orelhas, no entanto, coloquei o almoço por lá como prioridade. Na primeira chance, lá estava eu antes do meio dia a caminhar ansioso pela estreita Rua do Boticário até o meu destino.
Boteco admirável
O Ita é um admirável boteco que deveria ser tombado, de cara, por sua arquitetura típica. É mais fácil de encontrar esse tipo de bar Rio do que em Samp. Tem um longo balcão em ziguezague, com banquinhos fixos ‘bunda de fora’ e a parede com azulejos com cruzes de malta. Quando consideramos toda história e os Pê-efes servidos por trás do balcão, o restaurante entra em minha lista de ouro de botequins imperdíveis de São Paulo.
Já tinha sido alertado sobre o intenso movimento do local. Não poderia supor que antes mesmo das 12h fosse difícil encontrar um banquinho para sentar. Me ajeitei num cantinho do balcão, sem muito espaço para esticar os cotovelos.
Seu Luiz Nunes toca o negócio há mais de 50 anos junto com o irmão José. Os portugueses passam de um lado para o outro tentando atender, e entender, o que os clientes pedem. Tudo por ali parece muito improvisado, mas funciona.
Não adianta ficar esperando alguém vir lhe atender, o negócio é pedir na primeira oportunidade, sem enrolação. Não é um lugar para esticar conversa. Atrás de nós dezenas de pessoas aguardam em pé, sedentas, para finalizarmos o mais rápido possível nosso prato.
Bacalhau à Gomes de Sá
Olhei para um dos diversos cartazes colados na parede com as sugestões de pratos do dia: Bacalhau à Gomes de Sá R$ 22,00. Sem muito mais pensar falei em voz alta: “Seu Luiz um Gomes de Sá aqui por favor!”.
Logo um pratinho com um pão francês foi jogado em minha frente. Observando o povo a minha volta descobri que o legal é encharcar o pão com um molhinho de azeite com muito alho que fica rodando pelo balcão.
Meu pedido não demorou mais do que 5 minutos para chegar em uma grande tigela junto com uma porção de arroz. É um exercício de equilíbrio comer espremido por ombros alheios pelos dois lados.
Se não foi o melhor bacalhau que já provei na vida, pela pechincha cobrada, comi o Gomes de Sá popular sorrindo de felicidade. Além do mais, o fato de se estar ali naquele murmurinho todo é uma experiência maravilhosa que só o Ita pode proporcionar.
Segui derramando o molho de azeite e alho sobre a comida e não demorei a dar cabo a toda a tigela. Assim que terminei minha última garfada já li nos olhares fixos da galera em pé na porta: “se manda que agora é minha vez”. Logo o meu banquinho foi ocupado por outro esfomeado de plantão.
Como eu ainda não conhecia o Ita! Pensei em minha amiga.
Leiteria Ita
Rua do Boticário, 31 – República. São Paulo (SP)
Horário: de segunda a sábado das 11h30 às 16h30m.
Contatos: (11) 3223 3845
Metrô mais perto: Estação República
Para saber mais: facebook.com/Leiteria-Ita
Gostou da dica? Então der um pulo lá não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.
Encontre outras dicas de destinos em São Paulo em: comer e beber em Sampa
