Na Zona Norte do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro de Benfica, o Velho Adonis atravessa gerações mantendo vivas as raízes da gastronomia luso-carioca.
Fundado nos anos 50 esse botequim é um verdadeiro patrimônio da botecagem do Rio de Janeiro e felizmente resistiu ao fechamento para continuar sua história.
Um boteco histórico, salvo por um admirador
O Adonis foi aberto em 1952 pelo português Arnaldo Magalhães, mas em 1960 seu filho, Joaquim Antero, o Seu Antero, assumiu o negócio. Ao longo de mais de 60 anos, o bar foi tocado por Antero e depois por seus filhos, angariando uma legião de admiradores, como eu.

No etanto, em 2019 o negócio enfrentava sérias dificuldades financeiras e chegou a fechar as portas. Parecia que a cidade perderia mais um ícone gastronômico, como ocorreu com outros tantos botequins históricos que ficaram na saudade.
Mas, para a sorte dos cariocas, ele foi salvo por dois antigos frequentadores, os irmãos João e Pedro Campos, que assumiram a gestão com o aval de Seu Antero.
João, inclusive, já tinha experiência no ramo da gastronomia, tendo passado por alguns restaurantes que fizeram história na cidade, como o Antiquarius. O terreno, portanto, já era conhecido.

O roubo da chopeira da Brahma
Um fato pitoresco é que durante a reforma do local a chopeira histórica da Brahma chegou a ser furtada. Mas João conseguiu resgatá-la em um ferro velho da Zona Norte, reinstalando esse tesouro cervejeiro que segue em funcionamento até hoje.
Essa chopeira uma raridade que só sobrevive em poucos bares da cidade, como o Bar Brasil e o Bar Lagoa. São mais de 90 metros de serpentina de cobre refrigerada no gelo. O que gera um chope primoroso.

O melhor bolinho de bacalhau do Rio?
Tudo no Velho Adonis começa pelo bolinho de bacalhau. Ele é servido em formato redondo, como manda a tradição carioca. O bolinho de bacalhau do Adonis sempre foi e segue sendo um dos melhores do Rio de Janeiro.
Seu recheio é muito equilibrado, sem excesso de batata, longe do famigerado “batalhau”. O bacalhau é bem desfiado e a fritura impecável. Uma verdadeira referência no Rio quando o assunto é esse clássico luso-carioca.

Torresmo de Bacalhau
Além disso, outro petisco curioso e saboroso que você encontra por lá é o torresmo de bacalhau. Isso mesmo! Feito com a pele do peixe, é crocante e agrada especialmente a quem curte textura de casquinhas de peixe como salmão skin.
Eles dão a opção de pedir o, inclusive, uma porção mista entre torresmo de porco e o torresmo de bacalhau. Eu achei diferente e surreal de bom.

Polvo com Bacon
O polvo com bacon é um dos campeões de pedidos entre o que eles chamam de “cumbuquinhas”, ou seja, pequenas porções de entrada para compartilhar.
É servido na cumbuca de barro e vem macio, bem temperado, e com pedaços de bacon na mistura. Essa combinação, por mais inusitada que pareça, cai muito bem com fatias de pão e goles de chope.
Açorda de bacalhau: tradição portuguesa
Outro destaque do cardápio é a açorda de bacalhau, um prato muito tradicional da culinária portuguesa. Originalmente tratava-se de um prato rústico, com base no pão dormido embebido em caldo.

Dizem que surgiu durante um período de maior necessidade e como uma forma aproveitar o pão do dia seguinte.
Com o tempo, no Alentejo, a açorda foi incrementada, ganhando outros elementos como bacalhau e frutos do mar. Aliás, são essas duas as opções servidas no Velho Adonis.
No botequim de Benfica a açorda de bacalhau é feita com pão embebido em caldo e lascas de bacalhau, mas com consistência mais firme, não tão úmida. Ela ainda leva uma gema crua por cima. Assim como o polvo com bacon, é servida em porções para compartilhar.

Pastel de Polvo
Passei ao largo das ótimas opções de pratos nessa última passagem pelo bar. Queria estar a petiscar por ali. Mesmo após toda essa comilança, ainda havia espaço para um pastel. Afinal, vir ao Rio de Janeiro e não comer um pastel é quase um pecado gastronômico.
Entre camarão, rabada e polvo, optei por este último, permanecendo nas coisas do mar. Recheado com pedaços generosos do molusco, é sem dúvida um dos melhores pastéis de polvo que já tive a oportunidade de comer.

O novo Velho Adonis
Mesmo com as mudanças e a revitalização do espaço, o Velho Adonis conseguiu preservar o seu espírito original, com o clima descontraído.
A nova gestão também incrementou o cardápio com novidades, mas sem descaracterizar a tradição luso-carioca que sempre foi a marca registrada do Adonis.
Os pratos de bacalhau, por exemplo, permanecem. Além disso, a famosa rabada — que já motivou algumas das minhas idas por lá — também segue firme no cardápio.
Um lugar que merece ser celebrado
O Velho Adonis é um botequim especial e um ponto de referência na cultura gastronômica do Rio. Mais do que isso é um exemplo de como tradição e renovação podem andar juntas.
Mas me digam aí, vocês conhecem o Velho Adonis? Qual o petisco luso-carioca que vocês mais curtem no Rio?
Espero que tenham gostado da dica e quando derem um pulo lá não deixe de falar pra mim como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos , aqui no blog o nos comentários do canal no Youtube.
Quem estiver procurando outras dicas de bares e restaurantes no Rio de Janeiro dá um pulo na aba: comer e beber no Rio
Velho Adonis
Endereço: Rua São Luiz Gonzaga, 2156 – loja A. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: terça a quinta das 10 às 22h. Sexta e sábado das 10h às 23h. Domingo das 10h às 19h.
Contato: (21) 3890-2283
Para saber mais: instagram.com/velhoadonis
Além das conversas com a equipe do restaurante e pesquisas no perfil do estabelecimento, para produção deste texto também consultei as seguintes fontes de pesquisa:
Cinco anos do novo Adonis: destino final de um imigrante inter-gastronômico
Adonis reabre com novidades, mas fiel à tradição

