BAR PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONOMICA CARIOCA. O BAR DA DONA MARIA FOI UM IMPORTANTE BOTEQUIM DO RIO DE JANEIRO. É REALEMENTE UMA PENA QUE TENHA FECHADO.
Voltei finalmente com meu irmão ao Bar da Dona Maria, seis meses depois de outra passagem nossa por este botequim tradicionalíssimo da Muda, num cantinho bucólico da grande Tijuca.
Naquela oportunidade chegamos tarde demais para almoçar – no sábado o bar fecha por volta das 18h, mas bem antes disso as panelas de feijão são raspadas. A feijoada tinha acabado!
Café e Bar Brotinho é o nome oficial deste clássico botequim da Grande Tijuca
Desde então a vontade de retornar para provar o feijão da casa não me saía da cabeça. Em uma das minhas idas ao Rio em 2012, o sábado sem muitos compromissos me pareceu perfeito para convidar meu irmão Tavo a, finalmente, comer a feijoada do bar tijucano.
O nome do estabelecimento, oficialmente, é Café e Bar Brotinho, mas todos o conhecem pelo nome da dona, a portuguesa Maria do Rosário, uma senhora sorridente. Apesar da idade avançada faz questão de estar todos os dias atrás do balcão no serviço.
Os clientes conhecem a casa pelo nome de Bar da Dona Maria
Hoje o negócio é tocado com ajuda da família. Maria só larga do balcão botequim durante um mês por ano, para visitar à terrinha querida, na região da Serra da Estrela, em Portugal.
O Bar da Dona Maria faz parte da minha lista de ouro dos botequins cariocas, uma importante casa de um bairro farto de bares tradicionais que é a Grande Tijuca.
A local tem muita relevancia no mundo do samba carioca, frequentado por bambas e que durante muito tempo reuniu memoráveis rodas de samba. Nomes como Moacyr Luz, Beth Carvalho, Noca da Portela, Nelson Sargento e Aldir Blanc passaram por ali. É ainda o ponto concentração do bloco Nem Muda Nem Sai de Cima.
A dona do boteco , a portuguesa Maria do Rosário
Localizado num sobrado datado dos anos 30, o bar, com mais de meio século de história, preserva uma atmosfera impecável e aconchegante, e apresenta muitas características que definem um típico botequim carioca.
A velha geladeira, o balcão de mármore, mesinhas e estantes de madeira, apetrechos improvisados por todos os cantos, quadrinhos pendurados e clima deliciosamente informal. É um bar com alma, verdadeiro, local de passagem obrigatório para os amantes do mundo dos botequins.
As estantes de madeira no fundo do bar, no caos organizado típico de botequim
Em nossa nova investida não demos bobeira e chegamos cedo, logo depois que o relógio cruzou o meio dia. Optamos por nos sentar junto as mesinhas da calçada, para aproveitar um pouco a calmaria agradável daquela região da cidade e as sombras das árvores na Rua Garibaldi, numa tarde confortável de outono no Rio de Janeiro.
Sai feijoada para cá e para lá! Estava tentadora. Mas antes, porém, uma cerveja, para nos ambientar. Vasculhei um pouco o cardápio, dei uma olhada na área interna, no balcão onde geralmente ficam uns salgados.
Para o almoço dispensamos a feijoada para nos fartar do arroz de camarão
Cumprimentei a Dona Maria, que lá estava atrás do balcão vigiando o movimento como sempre. Entre os petiscos tradicionais há pastéis, almôndegas e croquetes, porém um me conquistou de cara: bolinhos de vagem. Nem estava no menu.
Por ali é assim, se der sorte pode esbarrar com uma iguaria como os bolinhos de vagem. Como em todo bom botequim carioca, permita-se dispensar o cardápio e pergunte o que é que está bom para comer no dia diretamente para a equipe da casa.
Surpresa de nossa passagem: um delicioso bolinho de vagem de entrada
Pra que esta formalidade de papel afinal? Pedi dois bolinhos. Deliciosos, mesmo já não estando tão quentinhos como os recém-saídos da frigideira. Com sabor suave, a entrada nos pareceu ideal antes de seguir com a feijoada. Feijoada?
O que é que você recomenda pro almoço? Perguntei ao garçom. Tem feijoada e um risoto caprichado de camarão. Opa, risoto de camarão…
É bem verdade que não tem nada haver com a feijoada, que seria alterar totalmente uma vontade, um desejo, partir para outro caminho, mas como num lance automático eu mal olhei para o meu irmão e vi que ele também tinha tomado sua decisão, desistir do feijão e seguir para o risoto.
O Bar da Dona Maria reúne diversas características como balcão de mármore
Sempre procuro fazer esta observação por aqui, que para os leitores cariocas é desnecessária: no Rio risoto pode ser arroz comum ou o arbóreo propriamente dito. Em botequim podes crer que é arroz branco. Arroz de camarão, um prato com cara de Rio – herança portuguesa. Fomos nele mesmo.
A porção (por volta dos 30 reais) deu na conta para nós dois, comendo decentemente e considerando a entradinha. Estava gostoso, bem temperadinho e honesto. Voltaria a pedir com certeza, mas não posso dizer que esteja entre os meus prediletos do Rio.
Pé direito alto, entre outras que o colocam em minha lista de ouro entre os botequins cariocas
No entanto, acompanhado da cervejinha gelada, uma pimentinha muito bem mandada, naquele clima bacana do clássico botequim, eu e o Tavo adoramos.
BAR PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONOMICA CARIOCA.
Bar da Dona Maria (Café e Bar Brotinho)
Rua Garibaldi, 13 – Tijuca / Muda. Rio de Janeiro (RJ).
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