Bar e Restaurante do Manolo e a comida galego-carioca

Manolo Bar, Botafogo, Rio de Janeiro, comida galego-carioca (4)

O Bar e Restaurante do Manolo ainda preserva uma áurea intocada do velho estilo de ser botequim do Rio. Além do seu cardápio de pratos típicos da culinária galego-carioca.

Saltei na Estação Botafogo do metrô naquela noite de terça com a intenção de fazer um jantar rápido. Tinha planejado ir a uma nova casa de galetos na Rua Visconde de Ouro Preto, mas fiquei surpreso ao descobrir que ela fecha as vinte e uma horas! Já eram nove e vinte e ao dar de cara com a porta da galeteria da Visconde fechada, ainda perdi uns cinco minutos pensando numa alternativa.

Praça de alimentação do shopping ao lado? Tô fora. Kilograma da esquina com rodízio de pizzas? Tô fora. Lembrei-me, então, do velho boteco Manolo, logo ali a uma caminhada curta de distância, na Rua Marquês de Olinda. Lá poderia, quem sabe, descolar um sanduba de pernil com abacaxi por um preço legal.

Bar e Restaurante do Manolo, botequim do Rio
A varanda do boteco carioca de alma galega
Boteco tradicional da Rua Marquês de Olinda

Já eram nove e trinta e cinco quando me sentei junto a uma das muitas mesas vagas na varanda da casa. O Manolo é um lugar de aspecto estranho, decoração singela e ambiente de aparente decadência. Para um forasteiro a cruzar a calçada o bar não passa uma impressão muito boa e está longe, imagino eu, do ideal de um novo público que adora um local descolado e limpinho com cara de botequim enlatado.

Enlatado naquela esquina da Rua Bambina somente os azeites portugueses sobre as mesas. Aquela casa meio desajeitada ao olhar superficial se trata de um verdadeiro e tradicional botequim carioca de bairro, que tem como fundadores dois galegos – Entre os quais o falecido Seu Manolo.

De certa maneira me admira muito que o lugar nunca tenha sido citado num guia como o Rio Botequim, ou mesmo feito parte de algum desses festivais de comida que inventam por ai. Por outro lado eu mesmo nunca fui um cliente da casa e nunca dei muita atenção ao seu cardápio. Isso até uns dois anos atrás quando morei um tempo em Botafogo.  Também é bem verdade que eu já ouvi opiniões das mais diversas sobre a qualidade da comida de lá.

Bar e Restaurante do Manolo, botequim do Rio
A parte do balcão do bar
Pratos de frutos do mar

Foi justo no tempo de morador do bairro que vim a descobrir as qualidades da casa, principalmente a de seus pratos de frutos do mar. Uma vez em particular, num almoço com minha esposa, fiquei positivamente surpreso com a Paella a la Valenciana. Muito boa e a um preço bem interessante. Já escutei um elogio de meu amigo Guguta (um dos meus consultores de destinos gastronômicos) sobre o peixe lá servido.

Mas o Manolo segue como uma espécie de restaurante quase esquecido, restrito ao povo que mora, trabalha e estuda na sua área ao redor. Um lugar ainda não descortinado pela supervalorização do mercado de botequins. O que levou casas antes ignoradas a se tornarem verdadeiros templos de adoração (algumas vezes sem merecimento) por gente que necessita de um carimbo Cult para entrar num botequim.

É justo por esta casa de comida galego-carioca preservar uma áurea ainda intocada do velho estilo de ser botequim do Rio que uma passagem por lá se faz ainda mais relevante. Por ali é fácil arrumar uma mesa e o atendimento é atencioso. Os garçons são tratados pelo nome e não vomitam sorriso ensaiado. Se ele ri para você é porque gostou sinceramente da sua pessoa e de seu caráter.

Bom chope Brahma
Bar e Restaurante do Manolo, botequim do Rio
Uma passagem rápida, mas agradável estada

A casa segue o seu ritmo lento de sempre, atendendo ao público do bairro e servindo, grata surpresa, um bom chope. A gentileza do garçom Antônio reforçou o meu conforto.

O primeiro chope caiu muito bem. Caprichado. Logo Antônio trouxe um segundo e um terceiro. O tempo passava e a cada gole eu gostava mais de estar por ali. Lia e relia o cardápio reservando certo tempo do olhar devagar no movimento do botequim e da esquina.

Tinha, no entanto, menos de meia hora para decidir por um come ligeiro e efetivamente esvaziar o prato. Poderia ter escolhido o sanduiche de pernil. Ele estava lá no cardápio por econômicos R$ 7,00. Uma opção prática e sem risco. Certo momento bati o olho no Polvo a Provençal a R$ 48,00 descrito no menu. Será?

Tenho boas recordações sobre pratos de frutos do mar do Manolo, mas partir de uma pedida certa e econômica para um prato incerto como polvo a um preço que estava um pouco acima do meu limite me cheirava a furada. Além de tudo, eu não tinha tempo para aquela brincadeira!

Bar e Restaurante do Manolo, botequim do Rio
Polvo à provençal: mais um bom prato de frutos do mar que a casa me revelou

Como vocês podem imaginar, é claro que eu resolvi pedir o prato, contra todas as recomendações possíveis.

Polvo a Provençal

Antes averiguei com o Antônio. “Está fresquinho o polvo?”. Sua mirada revelou certa sinceridade. “Então eu quero um. Desde que seja um preparo rápido, mas sem, porém, deixar de lado o capricho necessário”. Eu estava muito exigente. Pedi para apressar o troço ainda queria que viesse bom! Veio: rápido e gostoso.

Uma porção que daria fácil para duas pessoas, considerando o arroz com brócolis e as batatas coradas (também bem preparados). Isso tudo por R$ 48,00, um preço que já não se encontra mais na Zona Sul da cidade.

Poderia até dizer que mesmo para uma pessoa (o que é exagero) o preço ainda é razoável, se levarmos em conta que pratos de polvo saem a uma média de setenta a oitenta em outros restaurantes. Mas para mim, que queria gastar umas sete pratas aquela noite, acabou ultrapassando a agenda.

Com aquela grande quantidade tentáculos cortados e puxados no alho em minha frente, rasguei o meu caderno de previsões de gastos e mandei ver. Agradou-me muito o fato dos pedaços estarem macios. Segurei a onda no arroz e na batata e me concentrei no molusco. Era muita comida, mas quando o negócio é polvo, sempre há um espaço extra dentro de meu estômago.

Bar e Restaurante do Manolo, botequim do Rio
O molusco estava muito macio. Delícia por um preço ótimo

Comi o último pedaço no badalar das vinte e duas horas. Meu amigo já devia estar me esperando para lhe ajudar a carregar os instrumentos até o estúdio. Não satisfeito com o atrasar, ainda solicitei para o Antônio uma saideira.

Preço atraente

Uma vez mais o botequim me revelou um bom prato de frutos do mar a um preço atraente. O que me falta para começar a virar um cliente assíduo? Talvez mais alguns ensaios no estúdio poeirento ali perto. Não, não é preciso ensaio para voltar ao Manolo, já sei o cardápio de cor.

No final de meu rápido e ótimo jantar, fui me apresentar a Renata, a gentil filha de Seu Manolo e que hoje está à frente do negócio com outro sócio. Elogiei a comida e prometi voltar em companhia meu amigo galego Arturo, com o qual venho realizando uma pesquisa sobre a influência da cultura da Galícia na culinária do Rio de Janeiro. Estejam certos de que feliz estarei a explorar um pouco mais os pratos de peixes e frutos do mar da casa.

Bar e Restaurante do Manolo

Endereço: ‎ Rua Marquês de Olinda, 87, loja A – Botafogo. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: de segunda a quinta das 7h às 1h e de sexta a domingo das 7h às 3h.
Contatos: (21) 2551-8398
Metrô mais perto: Estação Botafogo

Para saber mais:
instagram.com/manolorest

Gostou da dica? Então quando der um pulo lá não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.

Encontre outras dicas de bares e restaurantes no Rio de Janeiro em: comer e beber no Rio

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editor do site Diários Gastronômicos

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0 Comments on “Bar e Restaurante do Manolo e a comida galego-carioca”

  1. Estive no Manolo este fim de semana (07/01/2012). A pedida ??? Ora, o polvo a provençal…..seguindo a dica do Diários.
    Muito bom………Passados mais de 6 meses do post a porção inteira estava R$ 78 reais que dá, tranquilamente para duas pessoas se fartarem. Pensando bem, a porção dá para 3 seres humanos normais (o que não é o meu caso).
    Foi uma farra, chops,, chopps, chopss, chopppsssss, bolinho de bacalhau, e no final mousse de chocolate, pudim (precisávamos de glicose). Dei uma bicada também num linguado ao molho de camarão de uns amigos e estava sem restrições. Cheguei as 14: 30 para só sair por volta das 17 hs.
    Só o bolinho de bacalhau que é longe, bem longe de ser dos melhores. Não estava ruim, mas era comum.
    Casa tradicional: guardanapo e toalhas de pano (como prefiro assim!!!!), excelente atendimento. O garçom Josimar, depois de eu perguntar um monte de coisa. Mandou: Fica a vontade pode combinar dois acompanhamentos que quiser. Quase pedir para que o polvo acompanhasse camarão e lula (ehhhee)
    O espaço entre as mesas da varanda é um pouco apertado, mas não chega a atrapalhar. É só não sentar nas mesas perto da passagem.
    Aprovado. Dá próxima vez, vou nas lulas !!!!
    Um abraço

    1. Olá Bruno,

      Que bom que você gostou do Manolo. Eu tenho um especial carinho pelo lugar. Se não é o melhor, ao menos é um botequim honesto e o clima é bem bacana. Quanto ao polvo, este merece mesmo elogios. É bom saber que tudo lá continua na boa. Obrigado por seus comentários. Espero te ver mais vezes por aqui.

      Um abraço,

      Dé Comber

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