Bar do Mario: o dia em que me mudei para São Paulo

Bar do Mario, Pinheiros, Sao Paulo, boteco

Parei num botequim de esquina de nome Bar do Mario, ao lado de casa para descansar as pernas e a cabeça. Meu primeiro ato foi pedir uma cerveja (muito gelada).

Precisava relaxar depois de seis horas de Dutra, com direito a subir a Serra das Araras em fila dupla, a vinte quilômetros por hora. Finalmente eu chegara a São Paulo e de vez.

Mudei-me com a Silvia contra a maioria dos conselhos que recebi do povo do Rio de Janeiro, para qual viver em Sampa significa afogar-se na lama e no lodo. Morrer de falta de ar e não conseguir se movimentar por conta do trânsito.

Bar do Mario Pinheiros
O pé-sujo de esquina tem um clima calmo de boteco de bairro

Os amigos cariocas mais otimistas apenas diziam: “Eu sei como é, mas por vezes na vida nós temos que enfrentar estes sacrifícios por conta de oportunidades profissionais”. Que eu me lembre não recebi congratulações ou palavras do tipo “Maneiro! Você vai amar”.

Bairro de Pinheiros

Até ali tudo certo. Uma esquina normal de Pinheiros. Rua arborizada e tranquila, o pessoal do boteco simpático e até sorridente. Sim, as pessoas em São Paulo sorriem e são bastante simpáticas.

Não morri asfixiado naquele primeiro dia. Como vocês podem ver, ainda sigo vivo no meu quinto dia na capital paulista. Não sei do trânsito, por que ando a pé. Não sei da falta de praia, porque nunca fui de praia.

Bar do Mario Pinheiros
Filé a Parmegiana, um clássico de São Paulo

Do mar, sim, sinto falta. Do cheiro, da sua presença e do seu horizonte infinito. Por outro lado, o clima daqui é agradável, com a variação entre a temperatura do dia e da noite.

Existem passarinhos a cantar por todos os lados e defronte a minha janela. Há vida, muita vida e verde por ai. Nada comparado ao Rio, mas há. Meu bairro me lembra um pouco Botafogo. Onde vivi e gostei de viver. Talvez por isso até me sinta aconchegado por aqui.

Pinheiros tem suas oficinas de carro, seu comércio como sapateiros, marceneiros e seu clima remanescente de subúrbio. Um lugar não há muito tempo descortinado pela especulação imobiliária. Um bairro onde bares e restaurantes descolados começam a pipocar por todos os cantos.

Bar do Mario Pinheiros
A primeira refeição após a mudança para São Paulo, será inesquecível

Pinheiros também tem sua própria Rua Voluntários da Pátria, que é a Teodoro Sampaio. Tem até, olha só, um cemitério. Por aqui a rota da Ponte Aérea também cruza e os moradores são infernizados pelo movimento dos helicópteros. Há gente a andar a pé pelas calçadas, ruas cinzentas e outras (por sorte a minha) arborizadas. Em suma, um Botafogo paulistano.

Filé a Parmegiana

Para descansar as pernas e a cabeça na esquina de casa no pé-sujo parei. Nos goles que dei na cerveja a filosofia da comparação dediquei. “O bairro me lembra Botafogo”. Pensei.

Estava tão agitado que minha cabeça parecia querer explodir. Tudo naquele momento de minha vida era absolutamente novo e o meu desejo de dominar, de explorar e sair pela cidade-novidade era gigantesco.

Antes, no entanto, eu precisava comer. Muito. Pedi um prato clássico de São Paulo para começar minha jornada gastronômica pela cidade: filé a parmegiana. Para acompanhar o Pê-efe, arroz, feijão carioquinha (o mulato) e fritas.

Bar do Mario Pinheiros
Estilo boteco-lanchonete típico de São Paulo

Longe de ser a melhor refeição da minha vida, por ser a primeira em Sampa, ela será inesquecível. O filé estava gostoso, mais o feijão insosso e a batata mole e oleosa. Comi tudo mesmo assim.

Boteco lanchonete

Num velho cartaz colado a parede daquele boteco-lanchonete (os botecos em São Paulo têm cara de lanchonete) eu descobri que o nome da casa é Bar do Mario. Segundo a matéria da Folha ali exposta, venderia o melhor bolinho de bacalhau da cidade. Seria verdade? Teria de retornar outro dia para descobrir. Pela cerveja gelada já merecia o retorno.

Na quinta-feira 24 de novembro de 2011 lá estava eu no meu primeiro almoço paulistano. As mesas do bar na calçada cheias de todos os tipos de figura. Pessoas falantes, algumas alegres, outras melancólicas. Algumas sozinhas, outras acompanhadas.

Bar do Mario Pinheiros
Após o almoço, um descanso na mesa da calçada para mais uma cerveja

O garçom simpático gritava pedidos com o português que estava atrás do balcão. Sim, o bar é de um português, o Mario. É bem verdade que não um português apegado a terrinha. Ao menos assim me revelou após uma conversa ligeira. Disse-me para voltar com certeza que ele iria caprichar no bolinho de bacalhau para mim.

Assim, naquele bar que poderia ser muito bem um típico boteco português carioca, de uma esquina que bem poderia ser uma típica esquina de Botafogo eu fiquei mesmo depois de me alimentar apressadamente. Para mais uma ampola de cerveja.

Fui para a varanda. As mesas já não estavam tão cheias da hora do almoço. Apenas eu e à tarde de Pinheiros. Até ali tudo bem. Tudo ótimo! Outros tantos parágrafos virão neste novo capítulo da vida.

Bar do Mario

Rua Artur de Azevedo, 1162 – Pinheiros. São Paulo / SP.
Horário: de segunda a sábado das 6h a 1h.
Contato: (11) 3061-5865

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2 Comments on “Bar do Mario: o dia em que me mudei para São Paulo”

  1. Opa! Desde então (e você mesmo provavelmente concordará se visitar o lugar hoje), e batata melhorou certamente hem! pois “dá um coro” em muita de restaurante Gourmet por aí. Talvez você não tenha dado sorte, Ou talvez o Mário leu seu artigo… Feijoada rola sim, Pedro, e é muito boa. Pra cerveja é o meu local preferido, pois vem sempre no ponto, tomo até no frio. Preciso experimentar o bolinho de bacalhau. Abs.

  2. Este buteco passou por uma reforma recentemente, até então rolava uma feijoada animada no finde. Não sei se vale… Boa sorte por aí! abs

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