A Mercearia São Pedro, infelizmente, fechou as portas no ano de 2024. O texto foi mantido como memória gastronômica da cidade de São Paulo.

Arrumar mesa é missão difícil por ali. Chegamos cedo e descolamos somente um aperto junto à calçada, num frio de doer os ossos (na escala de frio de um carioca). É claro que independente da temperatura, a boa cerveja de brasileiro tem de ser gelada como manda o gosto popular, eu incluso.
A clientela senta junto às mesas dispostas na grande varanda, ou no cantinho da calçada (quando a prefeitura não está de vigília). Há alguns bancos no balcão de madeira na parte interna do bar.


Misto de mercearia e sebo de livros
A casa é um misto de mercearia e sebo de livros e virou um ponto de encontro para os apreciadores de literatura e poesia. Além de cinema, já que no meio da bagunça também há uma locadora de filmes.
Apesar de a função de bar e sebo ter tomado boa parcela do espaço original do velho armazém, no meio das estantes de livro ainda é possível esbarrar com uma área dedicada aos produtos alimentícios e de limpeza. Você poderá encontrar catchup, latas de creme de leite, leite de coco e molho de carne, não muito distantes das peças literárias e vídeos.
O local nasceu como uma casa de secos e molhados há mais de quarenta anos, comandada pelo descendente de sírios, Pedro Benuthe. Até hoje o estabelecimento está nas mãos da mesma família.
A função de bar ganhou forma nos anos setenta, após a compra do endereço vizinho, quando surgiram o balcão e o forno. Mas somente tempos depois, já nos anos noventa, o lugar foi adotado por professores, jornalistas, produtores e outros profissionais liberais e intelectuais que começaram a dominar a cena.
Aos poucos o espaço foi sendo transformado no que é hoje, um lugar caoticamente interessante e cheio de personalidade. Melhor de tudo: serve uma cerveja impecavelmente gelada e tem boa comida.


Pernil é o carro chefe da noite
Eu dei uma espiada no forno e foi impossível não reparar numa grande e apetitosa peça de pernil que aguardava para ser pedida pelos clientes. Aí está o meu jantar, pensei. A intenção era esticar mais um pouco a prosa antes de comer.
Mas alertado pelo Pedro de que por ali é melhor reservar a comida, antes que ela acabe, não dei chance ao azar e solicitei uma porção da carne de porco.
Pastéis para começar
Neste ínterim também vi um garçom cruzar o salão com uma travessa de metal cheia de pastéis. Conforme ele ia circulando as mesas, a travessa se esvaziava a uma velocidade incrível. A cada noite há apenas uma leva de pastel como aquela. Só para deixar o pessoal na vontade. Por isso, quem não garante o seu, babau.
Puxamos o rapaz que carregava a mercadoria para o nosso lado e ajudamos a acabar com a travessa pedindo logo uns quatro pastéis (de queijo e de carne). Lembrou-me muito um pastel de feira de rua. Não achei nada extraordinário, mas também não desgostei. O de carne estava melhor (adoro pastel de carne moída).


Porção de pernil
Logo em seguida chegou à porção de pernil com uma cesta de pães. As tiras da carne de porco desmanchavam de tão úmidas e macias. Com o resto de molho na bandeja o pernil ficou simplesmente fantástico no pão de acompanhamento.
Não fiquei surpreso ao saber que aquele (junto com a carne assada) era o grande pedido da casa. Um pernil de respeito, muito bem temperado e preparado. Merece meus elogios e vale o retorno.
A Mercearia São Pedro, sem dúvida, é um desses lugares que vale adotar, se você conseguir arrumar um lugar para sentar. Após o pernil e algumas cervejas eu e Thiago nos demos por satisfeitos.
Mercearia São Pedro
A Mercearia São Pedro, infelizmente, fechou as portas no ano de 2024. O texto foi mantido como memória gastronômica da cidade de São Paulo.
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