É assim que funciona com A Marisqueira. A gente sempre tem esse restaurante na manga, para uma emergência. Não é o lugar mais barato do mundo, muito menos o meu português preferido na cidade. Por outro lado, a casa sempre nos recebe bem, é de certa forma aconchegante e serve uma comida boa. Acima de tudo tem uma ótima Alheira de Mirandela de entrada.
No fundo era o lugar que estava buscando. Ficar sentado com a Silvia, no frio artificial, junto a uma mesa para quatro pessoas, com bastante espaço para falar sem se sentir sendo claramente ouvido, mas nem tão distante que não nos permitisse escutar a conversa dos outros. O que faz parte do programa também.
Couvert carioca
Sobretudo eu queria aquele simples couvert carioca (R$ 5,00): Azeitonas portuguesas, uma manteiga, umas singelas torradas de pão francês e ovos de codorna. Enrolamos sem a menor pressa no petiscar inicial, acompanhados de algumas latas de Coca-Cola Zero, muita água com gás e a Cerpa gelada.
Até que dá para fugir da gastança catando opções mais em conta no cardápio. Entre elas o próprio polvo com arroz a brócolis para uma pessoa (R$ 60,00). A porção dá confortavelmente e sem exageros para um casal, depois das entradas. Acaba que o almoço sai na média da cidade. Antes de partimos para o prato principal, e após nos fartarmos com o singelo couvert, solicitamos nossa tão queria Alheira de Mirandela.
Alheira de Mirandela
Estávamos muito bem atendidos pelo simpático Moisés. É desses bons e velhos garçons do Rio. Mais uma Cerpa e esqueci da ressaca. Entre nosso papo e o papo dos outros ficamos por ali sem vontade de ir embora. Tava tão fresquinho! Chegou a alheira, objeto estranho a primeira vista, ali enroscada em uma panelinha. Moisés fez a gentileza de partir o embutido em dois pedaços que serviu, com delicadeza, em nossos pratos.
A Alheira é quase um patê. É gostoso ficar ticando a massa de frango com especiarias de dentro da casca da tripa para ter com torradas. Ou devorá-la sem nada mesmo, até a casca, que em parte fica deliciosamente crocante. Não havia a menor dúvida de que um prato para uma pessoa nos satisfaria. Pedimos o polvo, o tão desejado molusco, que me escapou da cabeça entre azeitonas e embutidos.
Vi o garçom cruzar o salão com uma grande bandeja com o bicho. Os pescados do dia ficam em exibição lá na entrada, para quem passa pela Rua Barata Ribeiro. Ia pedir para tirar uma foto, no entanto a pressa de Moisés foi mais ligeira do que minha intenção. Fiquei com preguiça de levantar. Estar em pé só mesmo para fazer xixi.
Arroz de polvo
Logo chegou o arroz de polvo, bem apresentado. É um bom pedido. A quantidade de polvo poderia ser um pouco maior, mas é aceitável. Acho que peca o preparo do prato pelo excesso de ingredientes, que acabam por se anularem um pouco. Fosse mais simples, certamente seria mais gostoso. De toda forma satisfez bem o meu desejo.
O domingo, no final das contas, não foi tão perdido assim. Saímos sorrindo de nosso almoço esticado e já praticamente curado da noitada, ainda caminhei um pouco pelas ruas de Copa com a Silvia, a catar os curiosos detalhes dessa região da cidade que tanto gostamos de andar.
A Marisqueira
Endereço: Rua Barata Ribeiro, 232, loja A – Copacabana. Rio de Janeiro / RJ
Horário: de terça a sábado das 12h às 22h. Domingo das 12h às 20h.
Contatos: (21) 2547-3920
Para saber mais:
instagram.com/amarisqueirarj
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Dedé, voltei à Marisqueira depois de uns 10 anos sem entrar lá. E durante o dia, coisa que nunca tinha feito. Gosto desses antigos portugueses, como o Timpanas, o Ribatejo, e tantos outros que se foram. Passava um pouco de uma da tarde. O garçon, Raimundo, eu não conhecia (frequentar certas casas só de dia ou só de noite tem disso, a gente fica conhecendo metade da equipe).
Pedi um Adega de Borba, tava com preço razoável (mas senti que a carta de vinhos tinha encolhido, Raimundo confirmou). Simpático, foi gentil o tempo todo. Minha amiga pediu um linguado grelhado com arroz de brócolis. Provei, tava ótimo. Eu matei um mocotó, que veio meio seco, pouco caldo. Gosto do bicho encharcado. Mas tava saboroso. A conta deu 90 por cabeça. E eu fiquei pensando: por que sugeri o Marisqueira para o almoço? Eu só li sua crônica hoje, úma semana depois de ter ido lá. O fato é que minha cabeça vagou como a sua também. Pensei no Shirley, mas na verdade me lembrei do Volga, que existiu há muitos anos na Inhangá. E depois de passar por Da Brambini e Fiorentina, assemtei-me na Marisqueira. Se não foi excelente, não decepcionou. Continua lá, mas me pareceu ter futuro semelhante ao do Bar Brasl, o de ir minguando aos poucos até fechar por falta de clientes, que hoje vivem correndo atrás de novidades.