800 gramas de bacalhau no Adonis

Sedentos, naquela aridez urbana, adentramos o salão de aspecto bem simples do Bar Adonis e por sorte encontramos um lugar ao vento. O calor infernal que era jorrado pelos cruéis raios solares e também brotava do chão, das paredes, dos muros cinzas daquele bairro de concreto e cimento não nos assustou.

Eu estava com a clássica Rabada de sábado na cabeça, mas a ideia só foi acatada por meu irmão. A alta temperatura nos levou para uma opção mais leve, o bacalhau cozido. Para mim não estava mal. O Adonis é tão conhecido pela rabada, quanto pela bacalhoada.

O chope chegou rápido a mesa. Que coisa fantástica! Posso dizer, o bar segue ofertando o melhor chope claro Brahma da cidade do Rio para mim. Gelado e com um creme impecável. Olha que é tirado na velha torneira de bronze no mesmo lugar desde que o bar foi inaugurado no inicio dos anos 50. Isso após circular pelos cerca de 90 metros de serpentina coberta de gelo .

Clássico de Benfica

Na época a casa era um pequeno boteco, numa antiga parada de bonde do movimentado bairro industrial de Benfica. A região sentiu muito o peso da decadência da cidade do Rio com a saída da capital. Hoje não há mais bondes e muitas fábricas se foram levadas pela violência e o esvaziamento econômico.

Nos anos 60, o Bar Adonis foi comprado pelos atuais donos. Já por volta de 90 sofreu uma significativa expansão com a compra de uma loja de móveis usados ao lado, onde hoje se encontra o salão onde almoçamos no sábado.

Bolinho de bacalhau

Após alguns chopes tomados feito refrescos, solicitamos uma porção de bolinhos de bacalhau de entrada (R$ 3,20 a unidade, porção com dez). Como já disse aqui no blog uma vez, discutir qual é o melhor bolinho de bacalhau da cidade é missão complicada. Cada um tem o seu predileto.

Posso dizer que o do Bar Adonis, independente de opiniões, é um bolinho que merece respeito e quiçá, para mim, está no pódio entre os 3 primeiros. Mas isso é a minha opinião. É sequinho, tem a medida certa entre batata e bacalhau e, sobretudo, é surpreendentemente leve, apesar de ser uma iguaria frita. Pode-se comer o quanto quiser sem enjoar.

Outra entradinha solicitada foi uma ótima porção de torradas com manteiga (R$ 5,20). Uma coisa bem simples e gostosa que foi uma grande descoberta na última vez que lá estive. Minha intenção com as torradas, no entanto, era a de mergulhá-las no caldo de rabada. Sim, a rabada não me saiu da cabeça mesmo após decidirmos pelo bacalhau. Porém, infelizmente, o garçom me informou que não era mais possível servir o caldo, pois havia pouco na panela. Pena.

800 gramas de bacalhau

Paquerando o cardápio, ficamos bastante assustados com o preço do prato de bacalhau para quatro pessoas que sai a R$ 222,50! O escolhido Filgueiras (com brócolis, cebola, palmito, alho e batatas). Foi quando o nosso garçom veio da cozinha segurando com alguma dificuldade um prato grande com dois lombos pornográficos de bacalhau.

“Essa aí é a quantidade para quatro”, nos revelou. Cada lombo tinha entre 800 gramas a um quilo! Ah tá! A imagem de um lombo de 800 gramas me pareceu um exagero. E era. Descartamos o que seria supostamente um pedido para quatro pessoas e solicitamos a quantidade de duas a R$ 128,50.

“Rabada, rabada!” A palavra soava como um mantra em minha imaginação. Não resisti. “Dá para sair uma porção aperitiva?” Perguntei ao simpático moço que nos atendia, frenético no ritmo acelerado de beber chope meu e do Tavo. Disse que ia verificar nos bastidores.

Rabada aperitivo

Seguimos a devorar a porção de bolinhos de bacalhau e as torradas com manteiga, no aguardo do prato principal, quando o cara retornou da cozinha com uma travessa de rabada para mim. Nossa, queria apenas um pequeno petisco, mas aquilo era quase um prato. Melhor de tudo, cheio de caldinho!

As torradas estavam completas. Meu sonho realizou-se. Tavo e eu passamos a nos deliciar, também, da rabada. Nem minha mãe (que havia refutado a ideia) resistiu à gostosura da macia carne desmanchando entre os ossinhos. O que era um almoço estava prestes a se tornar um inesquecível banquete. Assim é toda vez que eu vou ao Adonis, uma passagem inesquecível.

Bacalhau a Filgueiras

Por último, lá veio o nosso amigo cruzando o salão com uma enorme panela com o lombo de bacalhau cortado em pedaços, batatas, brócolis, etc. Mal colocou o pedido na mesa e estávamos certos de que uma quentinha (ou quentona) se faria necessária.

Ótimo bacalhau que fechou nosso grande programa. Para se ter uma ideia, a sobra me serviu como um confortável almoço de domingo em casa. Isso significa que, com entradas, a opção para duas pessoas a R$ 128,50 dá para seis, numa boa. Não achei tão caro assim. Esse prato merece elogio. Para um casal, pedir um bacalhau no Bar Adonis é complicado, a não ser que sejam dois super-heróis do tipo Man x Food.

Fiquei feliz em ver que na parede do salão ainda resiste uma reportagem sobre o bar-restaurante datada de 2002 do Botequim Impresso, jornal que editei com uns amigos da faculdade, na época em que eu estava terminando o curso de jornalismo.

Minha vontade de falar sobre bares e comida ultrapassou a juventude e segue firme na maturidade. Melhor de tudo foi constatar que o Bar Adonis continua sendo o mesmo grande botequim desde então.

Velho Adonis (Bar Adonis)

Endereço: Rua São Luiz Gonzaga, 2156 – loja A.
Horário: terça a quinta das 10 às 22h. Sexta e sábado das 10h às 23h. Domingo das 10h às 19h.
Contato: (21) 3890-2283

Para saber mais: instagram.com/velhoadonis

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