Onde fica este pequeno armazém de cor amarela, escondido dos novos e corridos tempos da metrópole, longe dos olhos dos que passam apressados pelas ruas da cidade? Britan Bar, ou Bar do Zé. Dele mesmo, do tímido dono que a partir das dezenove e pouca aparece para comandar a casa.
Antes desse horário quem gerencia é a esposa dele, até a novela das sete acabar. O volume da televisão fica alto, por vezes, até pouco depois do fim do Jornal Nacional. Então entra uma eclética e ótima trilha sonora num velho aparelho cd player.
Se dependesse do Zé este texto nunca seria publicado. O homem, de jeito pacato, é duro de roer. Não quer saber de publicidade, foto, nada disso. Pra que botar mais gente naquele pequeno espaço! Depois de um tempo, com a frequência e cuidado, Zé vai mostrando sua outra face, a de um homem gentil e solícito, sorridente e alegre. Mesmo assim, não quer saber de aparecer em fotografia.
Cerveja gelada e boa música
O objetivo mesmo é tomar cerveja, bem gelada, escutar boa música (as trilhas do Zé sempre são ótimas), conversar ou contemplar a ladeira. Olhar o movimento dos poucos que passam descendo e subindo o morro.
As luzes de cor amarela. Uma velha Kombi estacionada. Antes das dezenove ainda dá para descolar uma mesa no ambiente apertado e sentar ao lado da enorme estante de madeira característica dos antigos armazéns cariocas (coisa raríssima de se ver na cidade hoje em dia).
Tem gente que gosta de ficar a beber em pé nos paralelepípedos, para lá admirar os detalhes do que passa lento e frear um pouco o ‘agito’ de um dia inteiro. Não sei se o Zé ainda deixa botar mesas na rua. Ele costumava reclamar, depois deixava. Acho que dependia do seu humor no dia.
Na quinta passada, quando estive lá, uma gente se espalhou pela pequena calçada. Alguns se aventuraram a sentar no meio fio. Meus amigos arrumaram um canto logo ao lado do balcão. Ali nos estabelecemos para várias rodadas de conversa.
O Zé
O Zé sempre fica escondido sentado atrás do balcão, como se nunca quisesse ser visto. Estava perto de nós. Era só chamar que ele deixava mais uma ampola de Serra Malte em cima do móvel. Tudo utilizando o mínimo possível de palavras.
Faz pouco tempo descobri o porquê do nome Britan Bar. Segundo uma fonte confiável, seria na verdade a razão social do estabelecimento, uma junção dos sobrenomes da família de Seu Zé (Brito + Anselmo) criada aleatoriamente por um contador. Mas todo mundo chama mesmo de Bar do Zé.
Onde fica este pequeno armazém de cor amarela? Paredes internas de tijolos aparentes, caixas e caixas de cerveja encostadas, empilhadas por onde quer que haja espaço. O belo mobiliário, que nos ‘antigamentes’ exibiu os mais diversos produtos e hoje é ocupado de centenas de garrafas. Inclusive uma espécie de altar etílico que cobre a parede dos fundos do ambiente.
Queijo prato em cubos
O banheiro fica lá atrás. Tem que atravessar o balcão, cruzar com a cozinha e ir até uma micro área interna onde há duas ‘casinhas’ sem distinção de gênero. Comemos um queijo prato em cubos. Havia praticamente um palito por cubo de queijo na porção. Deu pra disfarçar a fome. Em tempos idos, eu pedia uns saquinhos de amendoim Mendorato, um prato e fazia um banquete.
Bom, meio escondido, sem que o Zé perceba vou revelar a localização do Britan Bar: Rua Barão de Guaratiba. No final da Rua do Catete, logo depois do Colégio Zaccaria e na altura da 9º DP, tem uma ruela de paralelepípedos – bem ao lado de um Ciep. É lá a entrada de um dos mais secretos mini-bairros da cidade.
Logo depois da primeira curva, pouco mais acima, você verá o pequeno armazém de cor amarela a sua direita. Cheguem com cuidado, sem fazer estrondo. Se apresentem ao Seu Zé, elogiem sua casa. De primeira ele pode ser um pouco fechado, mas logo vai abrir um sorriso de simpatia. Mas não digam que a indicação foi minha.
Britan Bar (Bar do Zé)
Endereço: Rua Barão de Guaratiba 49 – Catete. Rio de Janeiro / RJ.
Horário: de segunda a sábado das 18h às 00h.
Contatos: (21) 2558-6583
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