Cabaça do Minho, o boteco do restaurante mais antigo do Rio

Há lugares que só mesmo quem trabalha no Centro do Rio conhece, ou tem a oportunidade de apreciar. É o caso da Cabaça do Minho, o boteco anexo ao restaurante Rio Minho.

Sempre que eu posso, publico um texto sobre algum destes locais reservados aos sortudos que habitam aquela área durante a semana. Digo sortudo porque eu sou grande admirador da região central carioca, onde por muitos anos trabalhei e ainda gosto de passear.

É no início da Rua do Ouvidor que fica o belíssimo sobrado onde desde 1884 está instalado o restaurante Rio Minho. Não errei na data, o estabelecimento é um dos mais tradicionais e antigos da cidade, fundado ainda na época do império!

Sopa Leão Veloso

É reconhecido pelos pratos de frutos do mar de influência portuguesa. Foi lá, inclusive, que um clássico prato carioca nasceu: a Sopa Leão Veloso, um maravilhoso caldo de frutos do mar.

O sobrado onde fica o restaurante Rio Minho, um dos mais antigos do Rio
A entrada para o salão principal, na própria Rua do Ouvidor

Como diversos outros pratos típicos da cidade, a sopa foi inventada por sugestão de um cliente. No caso, o embaixador Leão Veloso, que após retornar da Europa adaptou a sopa francesa bouillabaise com temperos tropicais, surgindo assim o famoso caldo preparado no Rio Minho.

A Sopa Leão Veloso reúne camarão, ostras, lula, polvo, mariscos, peixe e um caldo engrossado especial, receita da casa.

Mesmo com seus preços salgados, uma visita ao salão com ar-condicionado da casa vale a pena. No entanto, não é sobre o espaço principal do restaurante que estou aqui para escrever.

Pouca gente sabe, mas ao lado do célebre estabelecimento fica um boteco anexo, que alguns clientes chamam de Cabaça do Rio Minho. Para sorte geral dos amantres do local, foi-se abaixo a monstruosidade da Perimetral.

Clima de boteco e cardápio de frutos do mar

É basicamente um balcão comprido em formato de U, com banquinhos fixos, onde os frequentadores podem apreciar uma seleção dos pratos de frutos do mar da casa a preços mais em conta e num clima informal.

…e a área anexa da casa, mais conhecida pelo povo do Centro do Rio

O boteco foi inaugurado nos anos sessenta, justamente para conquistar um público que não tinha condições financeiras de aconchegar-se no salão principal.

Há quem diga que o balcão anexo oxigenou o negócio a ponto de evitar o seu fechamento. Hoje existe a frequência do restaurante e a galera do boteco.

O anexo já não se limita ao balcão, pois atualmente também conta com mesas de madeira, postas ao longo da calçada e debaixo de um grande toldo.

Com horário de funcionamento restrito ao almoço de segunda a sexta, só mesmo quem trabalha na área, ou está a passeio, tem a sorte de poder curtir as delicias ali servidas.

Atualmente o boteco conta com mesas de madeira embaixo de um toldo…

Apesar do grande movimento o rodízio é intenso, pois quem para por ali busca também a rapidez no serviço.

A exceção é sexta-feira, dia oficial do estica no Rio de Janeiro. É quando os almoços duram o tempo do impossível ao longo de toda à tarde.

Foi justamente numa sexta-feira que eu pousei por ali, surpreendentemente pela primeira vez na vida. Já havia ido ao restaurante principal, gostei muito, mas depois da experiência no boteco, é difícil largar daquele balcão.

Preço relativo pelo que se come

Não estou falando de um pé sujo que vende comida a preços módicos. Talvez anos atrás o cobrado por ali até pudesse ser em conta. Atualmente, mesmo o boteco do Rio Minho não é tão barato assim. Digo em comparaão como a um Pê-efe típico do Centro.

Porém, na Cabaça, os pratos são bem servidos e dividindo-se as porções, pela qualidade do que se come, dá para se relativizar o valor. É o caso, por exemplo, de um dos pratos executivos do dia: Bobó de Lagostin, por R$ 43,00. Onde mais se pode comer esta coisa tentadora na cidade por este tanto?

…mas no início era formado apenas pelo balcão em formato de U
Polvo frito com arroz a brócolis e batatas coradas

Sim, quase pedi o bobó, não fosse pelo polvo frito. Ele estava lá no menu. Foi inevitável. Os leitores mais antigos do Diários Gastronômicos sabem da queda que eu tenho por este maravilhoso molusco.

Quando vi ele passar, com seus tentáculos derramando-se pela tigela de cerâmica alheia, não me aguentei, quase babei. Polvo frito com arroz a brócolis e batatas coradas! Fala sério que eu conseguiria resistir a este que é para mim um dos mais fantásticos pratos da culinária típica carioca.

Dispensei os lagostins, o camarão a milanesa, o bacalhau, a paelha e a peixada à baiana. Todos têm sim o seu valor, e pelo que pude testemunhar a minha volta, estavam com uma cara ótima. Aquela sexta-feira, porém, seria mesmo do polvo e para o polvo.

Não resisti ao Polvo Frito com Arroz a Brócolis e batatas coradas…

Não teria tempo nem estômago para bolinhos. Estava sozinho. Fui direto ao que me interessava. Ajeite-me no banquinho fixo, no cotovelo do balcão, e logo fiz o meu pedido.

De um lado duas amigas esfomeadas devoraram cada qual um prato de camarão a milanesa. Do outro, um engravatado se deliciava com uma garrafa de cerveja Therezópolis no aguardo de seu pedido. Em frente, um senhor de chapéu panamá falava alto com seus companheiros.

Toda a equipe da casa é formada de mulheres e o atendimento é muito gentil e ligeiro. Estamos no Centro e mesmo na sexta tem gente com pressa de comer. Eu não. Minha pressa era apenas a ansiedade de ter os tentáculos na minha frente.

Um fazer amor com garfo e faca

Depois de chegado o prato, não haveria por que correr, mas apenas curtir o mastigar lento dos meus pensamentos. Um fazer amor com garfo e faca.

… um dos meus clássicos cariocas prediletos. Bonito demais

Nem precisaria da faca para dizer a verdade, tão macio estava o bicho. Partia-se com pouco esforço. Que beleza! Reagi com os olhos assim que avistei o troço.

A moça me trouxe o pedido, sorriu e saiu sabida de que a entrega me agradaria. Tomei meu tempo. As amigas se foram, o engravatado pediu outra garrafa de cerveja e o do chapéu seguia a falar a altos decibéis. Ao redor pessoas iam e vinham, todas pareciam íntimas do boteco, nem precisavam do cardápio. Tudo estava na ponta da língua.

Apesar de indicado como sendo apenas para uma pessoa a porção é realmente generosa. Tinha muito polvo por ali, além de boa quantidade de acompanhamentos.

Dediquei-me ao molusco, mas aos poucos também devorei os arredores. Pouco sobrou da comida. “Um café, por favor.” Nada de expresso, queria mesmo é matar minha saudade do bom e velho cafezinho carioca.

Que boteco é este meu deus! Coisas do Rio de Janeiro, segredos do Centro da cidade, que eu adoro desbravar. Da próxima vez, quem sabe, eu peço o lagostin.

Cabaça do Minho

Rua do Ouvidor, 10 – Centro. Rio de Janeiro / RJ
Horário: de segunda a sexta das 11h as 16h.
Contato: (21) 2509-2338

Para saber mais:
instagram.com/restauranteriominho

Gostou da dica? Então quando der um pulo no Cabaça do Minho não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.

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