Não se impressionem com o fino timbre da voz do Carlinhos do Coco quando estiverem a fazer compras pela feira de rua da Rua Paulo Barreto. No início, a imagem daquele homem corpulento falando fino é bem bizarra e cômica. Com o tempo a gente acaba por se acostumar. Carlinhos monta a sua barraca por ali há uns dez anos, vendendo somente cocos e melancias. Seu ponto, mais ao lado da Rua Mena Barreto, é a minha primeira parada de sábado na feira.
Já contei isso por aqui: mesmo quando não tenho nada para comprar, acordo de manhã e vou à Rua Paulo Barreto. É quase como passear no parque para mim. Tomo uma água de coco e depois fico a circular pelas barracas, observando as cores e as pessoas, tateando as frutas, sentido os variados cheiros que compõe o ambiente de uma feira de rua. Acabo por encher a sacola (sempre carrego uma sacola na suposição da compra) de produtos que ao longo do caminho, me recordo da, ou invento necessidade.
Ingredientes para o almoço de domingo
No específico sábado passado tinha motivos mais sólidos para estar lá. Terminar de comprar uns ingredientes para o almoço de domingo em família, lá em casa. É claro que a solidez dos meus objetivos é bastante flexível, quase fluida. Eu geralmente vou acrescentando coisas aos eventos que produzo de maneira a conseguir atingir finalmente o exagero.
Parei na barraca onde trabalha o Ricardo. Lá sempre encontro produtos distintos, como cogumelos, tomates especiais e verduras dignas de foto. Parte dos alimentos é produzida no sítio da família de Ricardo, ou em pequenas propriedades de conhecidos seus, em Nova Friburgo – região serrana do estado do Rio. Outra parte é trazida de São Paulo, principalmente os cogumelos como shitake e shimeji.
Eu já tinha comprado alguns cogumelos na mercearia Meijó. Queria apenas uma porção de nirá e talvez uns aspargos. Estes últimos, no entanto, não estavam tão bonitos assim. Paguei o nirá e segui meu caminho, ziguezagueando pelo movimento do povo e o comércio ambulante, na nublada manhã.
Conserva de jiló
Parei para descobrir as surpresas que o Adilson guarda no seu ponto, no meio da feira. Sempre tem alguma coisa diferente lá. No dia em questão ele caprichou. Arrumou de vender umas conservas de jiló e berinjela que compra de um vizinho seu, um italiano. Irresistível. Queria levar as duas, mas por 10 reais cada, decidi que era demasiado valor a pagar em meu, sem muita grana, cotidiano atual. Optei pela conserva de jiló, mais exótica. Viria a constatar dia seguinte que é ótima.
Um pouco mais para lá do Adilson a feira dobra a esquina, numa ruela dessas escondidas de Botafogo e onde fica o setor de carnes e peixes. Antes de ir atrás das linguiças, parei para comprar cebolas com a Daniela. “Fala show!” Ela grita quando me vê chegando. Dificilmente consigo cruzar incólume com sua barraca de batatas, alho e cebolas. Daniela sempre arruma um jeito de me convencer a levar algo: “Não vai comprar aquelas cebolinhas que você gosta.” “Leve mais umas gramas de alho para completar…”.
Já comprava com ela ainda no tempo em que eu morava no Flamengo, e frequentava mais a fantástica feira de domingo na Glória. Daniela também marca ponto lá, sempre ofertando produtos bem atrativos. Por vezes, no entanto, a cebola do vizinho está melhor. É quando eu tenho de comprar escondido e passar despercebido no meio da multidão.
Porção de linguiça na feira de rua
Termino o meu roteiro de ida no setor de carnes e peixes, depois da curva. No sábado eu parei para comprar uma porção da boa linguiça do Wanderley (não sei se escreve assim ou se é Vanderlei). Ele mesmo as fabrica, segundo revelou-me, no terraço de sua casa. A carne de porco que compra vem de Santa Catarina. Gosto dos seus embutidos – linguiça fina e uma grossa com pimenta – por terem bastante carne e gordura na medida certa.
Do Wanderley eu fiz a volta cruzando toda a feira de rua novamente na direção contrária. Acabei parando a complementar as compras com um ou outro elemento de súbita necessidade. Senti falta da minha esposa, que de uns tempos para cá tem me acompanhado no gostoso passeio matinal de sábado.
O último ato da feira de rua é sempre parar na barraca de flores com a Silvia – na esquina da Rua Mena Barreto – e comprar diversas espécies para fazer arranjos e colorir de alegria a nossa casa.
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