A Mercearia Santo Antônio é uma linda mercearia de bairro, simples e bem conservada. Descobri esse tesouro por acaso, para minha sorte.
Fazia muito frio. Daqueles que quase dá vontade de desistir de sair de casa. Devidamente encasacados, eu e minha esposa enfrentamos a inércia e tomamos um táxi em direção a Perdizes. A intenção era seguir direto ao Pompéia Bar.
Na esquina do bairro o táxi freou no farol. Poderia ser apenas uma parada qualquer, no entanto foi mais do que um simples vermelho no sinal. A brisa fria atravessava a fresta da janela do automóvel. Silvia apontou para o lado esquerdo: “Olha que bar interessante ali!”.
Mesmo no embaçado do vidro, com meu aguçado olhar de botequeiro, bastou um segundo para tomar a decisão: “Nós vamos ficar por aqui mesmo amigo”. Convidei a Silvia, então, para uma observação mais cuidadosa do botequim. Foi irresistível.
Saltamos do auto e bastaram uns passos nossos para que o tempo nos reservasse uma chuvarada. O que poderia gerar arrependimento tornou-se uma feliz oportunidade. Tínhamos de esperar a chuva passar, então lá fomos para o abrigo do boteco.
Mercearia história e muito bem preservada
Sou um colecionador aficionado de bares, mas antes de tudo também um fanático por mercearias e armazéns. Talvez seja pela memória afetiva que tenho deste comércio típico. Em outros tempos era comum na cidade aonde eu cresci, o Rio de Janeiro.
Eu demorei a acreditar no achado. Pensava que fosse praticamente impossível encontrar mercearias assim na cidade de São Paulo. A capital é onde tudo se transforma e volta a transformar-se com grande, e nem sempre bem vinda, rapidez. Mas dá. Para a minha felicidade, vejo que são raros sim, mas não tanto quanto eu supunha.
Fomos calorosamente recepcionados. O dono de um lado do balcão e um único cliente do outro. Logo me apresentei e larguei elogios ao lugar, disparando ao mesmo tempo uma série de perguntas como uma criança tomada de curiosidade.
Mercearia dos Três Antônios
Fundado em 1967, o nome oficial do estabelecimento é Adega, Bar e Mercearia Santo Antônio, no entanto os clientes conhecem o local como Mercearia dos Três Antônios.
Isto é facilmente explicável: o fundador é um português da Ilha da Madeira, de nome Antônio. Ele assim batizou também seu filho, o simpático moço que nos recepcionou ali atrás do balcão.
A denominação, por sua vez, é uma homenagem a Santo Antônio, o qual filho e pai são devotos. São três Antonios no comando da casa. Santo Antônio está por todos os lados dando a sua benção aquele pequeno espaço, inclusive numa grande imagem disposta ao fundo.
Comércio em extinção
É difícil crer que estamos numa metrópole enorme como São Paulo naquele clima gostoso de cidade de interior. “Era uma Adega” insistiu o dono, referindo-se ao tempo em que seu pai, o fundador, ofertava galões de vinho para os fregueses. Ainda há vinho no cardápio, mas o termo Adega saiu de moda. A mercearia, ainda bem, sobreviveu.
Como tal não poderia deixar de lhe faltar uma estante de madeira com produtos básicos para atender a clientela local: café, açúcar, farinha, feijão e enlatados, além de alguns itens de limpeza. Não estão ali só para enfeitar, fez questão de afirmar Antônio. Parte da renda com o negócio ainda advém desta venda.
É claro que, como em muitos outros casos semelhantes, a mercearia só está de portas abertas por conta da venda do bar: cerveja e petiscos. Dia ou outro, como é comum, o bar toma de assalto o que restava da estante de produtos e a mercearia vira definitivamente um botequim. Por isso é gostoso estar em um local onde ainda é possível se testemunhar este misto de coisas, mesmo que apenas como um mero dado pitoresco.
Continuei me surpreendendo com aquele pequeno lugar quando vi no fundo uma geladeira com grande variedade de marcas de cervejas, que fogem das mesmices de boteco pé-sujo.
Pedi uma Heineken: estupidamente gelada. Cerveja gelada fica ainda melhor no frio. Na estante reparei que os amantes de uma boa cachaça também não ficam decepcionados com os rótulos disponíveis por ali.
Petiscos básicos de boteco
Bateu uma fome, afinal já não era tão cedo e saímos justamente para jantar, lá no outro bar. O que ficou para um depois quem sabe.
A Mercearia dos Três Antônios oferta alguns petiscos básicos que ficam expostos no balcão: tremoços, mini salsichas, azeitonas portuguesas e outras minutas. Há também o cardápio de boca, já que casa não tem um menu impresso. Antônio me recomendou o caldo de piranha para aquecer. Boa pedida.
A chuva estava passando, assim como as horas. Silvia e eu queríamos seguir com o nosso programa. Aquela noite ainda nos revelaria outras fantásticas surpresas, mas isto ficará para outro texto. Meu caldinho chegou enquanto eu trocava uma ideia com Marcos, cliente assíduo e único presente além de nós no bar.
Que delícia de caldo! Bastante condimentado, é bom frisar. Para mim não poderia estar melhor. Não é fácil encontrar caldo de piranha por ai. Marcos brincou dizendo que tem gente que apelida de piranha qualquer peixe. Quem sabe não seria um ‘blended’ de peixes… “O fornecedor do Mercado da Lapa é confiável”, retrucou Antônio. O que importa é que eu estava adorando.
Seguimos com o papo e recebi o convite para retornar numa tarde de sábado, sem chuva, é claro. É quando Antônio põe as mesas de madeira do bar na calçada e prepara umas carnes num pequeno braseiro que tem disponível. Pareceu-me uma ótima ideia.
Com ajuda da Silvia logo demos cabo do caldinho. A chuva ainda insistia lá fora, mas decidimos que era hora de partir para outra pauta. Terminei os últimos goles da cerveja e nos despedimos daquela encantadora escala.
Adega, Bar e Mercearia Santo Antônio (Mercearia dos Três Antônios)
Rua Doutor Miranda de Azevedo, 698 – Pompéia. São Paulo / SP.
Horário: quinta e sexta das 17h às 22h. Sábado das 13h às 21h. Domingo das 12h às 19h.
Contatos: (11) 94143-4329
Para saber mais:
instagram.com/adegabarsantoantonio
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