Uma rabada de domingo no Morro do Salgueiro

Raizes da Tijuca, escola de samba

Alcancei o boteco do Mauro Torrão depois de caminhar rua acima na General Roca. O estabelecimento simples fica logo na entrada do Morro do Salgueiro. Já para uns minutos após as dezesseis e a galera ainda seguia no futebol de domingo. A cada primeiro domingo do mês, o pessoal do Raízes da Tijuca organiza o evento, que inclui o futebol de manhã e um almoço e samba no final da tarde.

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
A tarde bonita tornou mais agradável a passagem pelo Raízes da Tijuca

E eu estava lá para conferir, para minha sorte, aquela festa. Senti cheiro bom de comida. Tomei a liberdade de me apresentar a duas simpáticas cozinheiras que conversavam alegremente: Tânia e Jussara. Eram as responsáveis pelo rango da galera, marcado dali a pouco na quadra do bloco.

Fui ver como andavam os preparativos da comida. A rabada por ali é acompanhada por angu, batatas, arroz e agrião. Ali na comunidade é costume, também, servir este prato tipicamente carioca junto a uma panelada de costelas de boi. “É mais barato e fácil de achar a costela”. Revelou-me Tânia. Assim, as costelas complementam o almoço.

Panela de angu morro acima
Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
O panelão de angu

Olhei as enormes panelas que ocupavam quase toda a pequena cozinha do boteco do Torrão. Não tinha dúvidas de que aquela comida toda daria para um batalhão de peladeiros. Além da galera que chegaria tarde à dentro para o samba. Só fiquei intrigado como é que o banquete todo seria levado até a quadra, distante uns 200 metros entre curvas e subidas.

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
Em outra grande panela, a rabada.

Aparentemente carregariam uma Kombi de rabada, mas a Kombi não veio. O jeito foi levar no braço mesmo e eu não escapei ileso da missão. Ou vocês acham que eu estava ali só para beber cerveja e bater papo?

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
As costelas complementadas de agrião e batatas

O pessoal me colocou logo para ajudar a levar a panelona de angu. Até os primeiros metros foi simples, mas logo vi que o troço seria bem cansativo. Fiz cara de macho e segui o caminho, com um medo danado de virar aquela comida pela rua. Consegui chegar ao destino e deixei para o dia seguinte a cobrança pelo esforço, através de uma dor muscular.

Raizes da Tijuca

O Raízes da Tijuca foi fundado em 1995 com o intuito de ressuscitar o interesse dos sambistas do Morro do Salgueiro para a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, na época um pouco abalada.

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
A quadra começou a encher com o início do samba

Nasceu como bloco de empolgação, com desfiles nas ruas da Grande Tijuca. Do embalo, em 1998, tomou o rumo de bloco de enredo. Os blocos de enredo seguem regras e têm o corpo semelhante ao de escolas de samba.

Dentro dos desfiles de blocos de enredo, o Raízes chegou ao 1º grupo, onde foi campeão por duas vezes na Avenida Rio Branco. Este ano o bloco desceu para o 2º Grupo e desfilará na Intendente Magalhães, em Campinho.

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
A quadra do Raízes e muito bem localizada e boa. Falta só a cobertura

O bloco acabou por ocupar a antiga quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, conhecida pelo nome de Calça Larga. Homenagem a uma figura histórica da Escola.

É um espaço muito bom, amplo e de acesso fácil para realização de eventos tanto para a comunidade, como para os visitantes, como eu. O problema, no entanto, é o fato de ser descoberto, o que deixa a diretoria refém do tempo.

Samba e rabada

O domingo de sol e céu azul estava perfeito para um samba e uma rabada ali na quadra. Por quinze reais tive o direito a um prato de almoço (e que prato!) e dois litrões de cerveja Antártica. O que mais poderia querer?

Primeiro fui resolver a comida. Novamente encontrei minhas amigas cozinheiras Tânia e Jussara, que agora finalizam a refeição. Era hora de montar minha montanha. Elas capricharam.

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
As simáticas cozinheiras, Tânia e Jussara, responsáveis pelo belo rango

Arrumei um lugar numa mesa de ferro bamba, busquei meu primeiro litrão e aconcheguei meu corpo para o almoço. Aos poucos dei cabo de toda a montanha alimentar. Bem nutrido, esvaziei feliz o meu primeiro litro, de papo com a galera do Raízes.

O samba começou, com o show do grupo Embalo Maneiro. A quadra ainda estava vazia. O negócio começa a ferver depois que o sol baixa. Não podia ficar mais tanto tempo assim, apesar de estar curtindo muito tudo aquilo. Que tarde linda!

Morro do Salgueiro, Raízes da Tijuca
Meu prato caprichado: saciado e feliz

Busquei meu segundo litro. O papo animou, o samba animou. Não satisfeito eu paguei por mais duas Antárticas e só saí quando o sol já dava adeus, por trás do conjunto de montanhas da Floresta da Tijuca. Um domingo super legal, e melhor, bem barato.

Rabada de respeito, cerveja super gelada, um samba maneiro e a simpatia da galera. Estes eventos de primeiro dia de domingo tem tudo para bombar.

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