RESTAURANTE YAKITORI MIZUSAKA ESTÁ PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONÔMICA PAULISTANA.
Foi uma coincidência muito feliz esbarrar no Yakitori Mizusaka quase na hora do almoço. Minha intenção ao entrar na escondida galeria da Avenida Brigadeiro Luís Antônio era ir a uma agência dos Correios no mesmo local. E só descobri o restaurante por que sou um curioso voraz e não resisto a uma galeria (é quase uma obsessão entrar e ver o que tem dentro).
Para um olhar desatento é difícil perceber o pequenino estabelecimento detrás de uma velha parede de tijolos – a não ser por um cartaz indicando o nome. Para quem não sabe o que significa Yakitori, pode acreditar mesmo se tratar de uma casa de massagem ou um centro de medicina oriental.
Já tinha recebido algumas indicações para conhecer o local, mas no meio de tantos outros restaurantes na agenda, ainda não tinha nem planejado uma passada por ali. A vida parece ter conspirado para antecipar meus planos e para minha sorte aquele envelope pardo e urgente de trabalho me obrigou a ir aos Correios e daí curiosidade fez o resto.
Yakitori, os espetinhos japoneses
Yakitori é para os japoneses o nosso famoso espetinho de churrasco – mas não necessariamente tão básico. No Japão há restaurantes bastante elaborados na lida do troço e eles levam a tradição muito a sério. De maneira geral, o termo pode se referir a lugares que servem comida preparada na grelha. Mizusaka é a família que, desde 1980, toca o negócio.
Basta entrar no minúsculo espaço do primeiro andar para perceber que as coisas não mudaram ali desde a década de 80. Isto dá um charme meio obscuro e retro ao local. No fundo do restaurante uma televisão no alto da parede transmite um canal de notícias japonês. Por ali o cardápio em português é a exceção e não a regra. É como entrar num fascinante mundo paralelo. Aos poucos o clima nos faz crer que estamos num botequim de uma viela de Tóquio e não a poucos metros da Avenida Paulista.
Fui atraído automaticamente para o balcão, defronte a grelha. De início estava meio sem jeito. O pessoal me olhou um pouco estranho do tipo “este barbudo nunca vi por aqui…”. Antes que pudesse ter tempo de admirar o cardápio, fui recepcionado pela pergunta: “O que vai querer?”. Perguntei o que estava bom no dia, e quando escutei “anchova”, não tive dúvida. Fui nela mesmo.
Anchova
Adoro anchova, não somente pelo sabor muito característico de sua carne, mas também pela memória afetiva que tenho dos tempos de infância, em que passava temporadas de verão na Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro – o dia inteiro me lambuzando com o peixe, frito, na beira da praia. Já que o clima é de anos 80 resolvi fazer este pequeno adendo. Voltemos ao almoço.
Eu era o único não descendente de japonês sentado no balcão no horário do almoço. A casa conta com um segundo andar (que deve ser espremido pelo tamanho diminuto da loja), mas o bacana, a meu ver, é ficar em frente ao preparo dos grelhados.
Eu não tinha entendido muito bem como o sistema funcionava. Fiquei um pouco envergonhado em perguntar. Fui observando o povo comer. Aos poucos diversos pequenos potes foram colocados a minha frente. Seria para eu pegar? Sim, claro.
Primeiro uma porção de bardana e um chá verde. Depois um pequeno pote com sashimi e outro com uma conserva de pepino. Depois fatias de melão. E então um missoshiro, uma salada verde, uma porção de arroz branco e finalmente o peixe grelhado.
Teishoku
A reunião de tudo isto é o que os japoneses denominam teishoku. É um dos estilos na verdade, pois a combinação pode vir de diversas maneiras e com comidas variadas, grelhadas, fritas ou cruas. Seria para nós um prato executivo.
Estava tudo delicioso e o peixe, sem erros. Vale destacar que missoshiro foi servido com vôngoles, do jeito que eu gosto. Já a salada verde veio com uma minicoxinha de frango dentro – um pouco surreal, mas muito bom.
O preço desta pequena festinha de elementos foi surpreendentemente barato. Meu almoço saiu a R$ 22,00! Isto por um autêntico teishoku japonês bem preparado. Ou seja, é uma grande pedida para o povo que está cansado de executivo brasileiro e para os amantes da gastronomia japonesa. O clima do lugar é impagável.
O Yakitori Mizusaka também funciona à noite, quando a grelha se dedica mais aos espetinhos de diversos sabores. Boa alternativa para uma happy hour na região da Paulista. Este é um programa que eu já coloquei na agenda.
RESTAURANTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONÔMICA PAULISTANA.
Yakitori Mizusaka
Endereço: Av. Brigadeiro Luís Antônio, Loja 15 – Paraíso. São Paulo (SP).
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