Um domingo de sol, multidão e Chefes na Rua, no Minhocão

Chefes na Rua, Choripans do Checho, Checho Gonzales

Dentro da extensa programação da Virada Cultural de São Paulo, eu particularmente fiquei tentado em ir ao Centro na manhã de domingo para o evento Chefes na Rua.

Ele reuniu alguns célebres nomes do panorama gastronômico paulistano em barracas montadas ao longo de um trecho do Minhocão, na região de Santa Cecília.

Se não tive disposição para acompanhar alguns shows de madrugada, por mais interessantes que fossem. Muito menos eu me propus a enfrentar a multidão para provar da galinhada do Alex Atala. Alguém esperava que não fosse acabar em confusão?

Acordei cedo na domingueira ensolarada e na companhia da Silvia e da amiga Mari, tomei o metrô para tentar ao menos descolar algumas porções de comida ofertadas nas barraquinhas dos chefes.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
A pequena churrasqueira estava longe de dar conta da procura pelos Choripans do Checho
Minhocão, um cartão postal às avessas

Para mim seriam dois programas em um: além dos petiscos, conhecer o próprio Minhocão. O Elevado Costa e Silva, que rasga um dos bairros mais tradicionais da capital paulista é uma das obras mais insanas e grotescas que o poder público planejou na história do Brasil. Tornou-se um cartão postal às avessas.

O Minhocão é uma obra tão bizarra que 10 anos depois de inaugurado o próprio poder público que incentivou o monstro já pensava maneiras de poder transformá-lo em pó.

Já tem algum tempo que o elevado ganhou uma segunda função. É área de lazer para moradores locais aos domingos. Ele também fecha a noite por causa do barulho, pois fica em alguns trechos a poucos metros das janelas dos apartamentos dos bairros que o cercam.

Paradoxalmente, o mesmo Minhocão que detonou o bairro de Santa Cecília, entre outros, também é um ponto de reunião da população.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
Quando chegamos, o movimento ainda estava bem descente

De cima do elevado tem-se uma perspectiva fantástica da área central da cidade de São Paulo. Mas nada que fizesse alguém mudar a minha convicção de que o melhor seria mesmo botar tudo abaixo. Chega de minhoca e vamos ao pão. Sim, Choripan.

Choripan do chef Checho Gonzales

Até me deparar com a quantidade de gente circulando entre as barracas eu acreditava que conseguiríamos ao menos comer alguns petiscos, que comporiam um brunch bem diferente.

O sol forte na careca e a aparente falta de banheiros químicos acessíveis (não vi nenhum em cima do viaduto), no entanto, me fizeram cair na real. “Acho que no máximo uns dois pratos…” pensei em seguida.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
Já para meio dia o negócio ficou um pouco mais cheio

O primeiro seria o Choripan do chef Checho Gonzales, um dos idealizadores do evento, por sinal. Sou um fã do clássico sanduíche argentino. Um simples e maravilhoso lanche de linguiça (chorizo) com molho chimichurri que considero como umas das maiores contribuições de nossos hermanos para a humanidade.

A fila de espera não nos espantou. O evento estava cheio, mas até que relativamente bem organizado. Afinal, havia chefes famosos, mas nenhum mega estrela como Alex Atala.

Além disso, diferentemente da madrugada, onde a galinhada foi distribuída gratuitamente, os pratos de domingo eram pagos. Baratos? Alguns sim, os dez reais cobrados pelo choripan me pareceram justos ao menos.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
A galera estava ávida (incluindo nós) pelos sanduíches da barraca
Gainhada do Alex Atala

Sobre o Atala vale um adendo: gostem dele ou não, certamente é o primeiro nome da gastronomia nacional que ultrapassou a barreira do mundo gastronômico e se tornou uma espécie de ídolo pop nacional do mundo da comida.

Só que diferentemente de um ídolo do futebol, ou da música, pouquíssimos têm condições de ver o Alex jogar sua bola, cantar os seus hits, ou mover suas panelas.

Quando pinta uma oportunidade, o que acontece? A galera vai atrás. É 0800? Aí mesmo que brasileiro gosta. E o mais fascinante é que o chefe nem conseguiu chegar perto do Minhocão tão cheio estava durante a confusão da galinhada.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
A equipe teve que correr atrás para atender todo mundo

Voltando as barracas. Mesmo com a intenção de democratizar as criações de chefes renomados, nem todo mundo (ainda mais uma família) está disposto ou tem condições de gastar dez daqui, dez dali, mas cinco do refri.

Porém, sendo uma cidade mega como São Paulo, mesmo quando falo de um público mais focado e interessado em gastronomia estamos tratando de uma multidão.

Chefes no Minhocão, ficou cheião

Além da falta de banheiros, em cima do Minhocão nada de álcool. Nem uma cervejinha. Neste ponto, tudo bem, estava mesmo um pouco cedo para começar a biritar.

Apesar do frio, o sol tava brabo. Enfrentamos a fila de meia hora numa boa e fomos coroados com os choripans. Estavam ótimos! Vale um especialíssimo elogio ao molho chimichurri.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
A espera foi recompensada com um ótimo sanduíche. Dou especial destaque ao molho chimichurri

Checho tomou a liberdade de criar e ofertar três sabores de choripan em sua barraca disputada: o tradicional de linguiça (minha opção), um sanduíche com pedaços de frango e outro de carne, o escolhido pelas meninas (também estava bom).

Depois do sanduba, com a careca queimando e a vontade de aliviar a bexiga aumentando, a possibilidade de seguir com o programa ficava remota.  

Quanto mais as horas se aproximavam do meio dia, mais cheio o elevado ficava. Dúvida cruel: enfrentar outra meia hora pela costela do Benny (do Ici Bistrô)? Merece, mas naquelas condições eu tive de deixar pra próxima.

Virada Cultural 2012 - Chefes na Rua
As meninas optaram pelo choripan de carne, que não ficou atrás do tradicional de linguiça

Ligamos o pisca alerta e tomamos a esquerda em direção ao Largo de Santa Cecília e dali para a República. O choripan não foi suficiente para suprimir nossa fome (reservada também a outros pratos). O pedido, e a espera, valeram a pena, mas tínhamos que arrumar outro canto um pouco mais calmo para continuar a comer.

Ano que vem espero ir novamente ao mesmo evento, até porque considero a iniciativa sensacional. Mas certamente a produção terá redimensionar suas previsões de público (colocar uns banheiros e umas barraquinhas com cervejinha também não faz mal a ninguém…).

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