A Cabana do Lago foi o primeiro destino de nossa viagem ao Tocantins. Restaurante singelo, com atendimento simpático e o cardápio dedicado aos peixes de rio, que são o forte da gastronomia de Palmas.
A Chegada em Palmas
Tomei o devido cuidado de me desfazer dos meus casacos pouco antes do avião fazer a curva para cruzar o enorme lago formado pelas águas do Rio Tocantins através da represa de Lajeado.
Sabia por experiência própria que ao abrir das portas da aeronave sofreríamos um ‘hot-lag’. Os efeitos da extrema variação de temperatura entre a cidade de São Paulo e Palmas, a capital mais nova da república brasileira e um dos lugares mais quentes que eu já tive a oportunidade de conhecer na minha vida.
Não falo de qualquer calor, mas sim de um sentimento específico e atormentador, uma mistura entre a secura de um descampado Cerrado e um bafo calorento eterno que parece grudar na alma e causar profundo torpor.
A vontade é de se arrastar, se jogar num canto com ar e não mais sair. O sol é para destemidos, inclemente com branquelos carecas como eu, que devem procurar nesgas de sombras entre as terras abertas, as ruas de solo vermelho e a poeira.
Muito se anda numa reta que parece não ter fim. A Avenida Teotônio Segurado, com enormes quarteirões ainda desocupados, exibe a mata nativa baixa e característica do bioma. Segue-se por quilometros até se atingir os primeiros conjuntos de prédios.
Nunca pensei que fosse conhecer Palmas na vida, mas cá estou na cidade pela segunda vez, levado pela equipe da Caraminholas Produções, desta vez com o Projeto Buriti Viola.
Palmas, uma cidade em construção
Fato é que todo este enorme interiorzão cresce a uma velocidade de dar inveja às metrópoles do sul. É claro, com isto há muito trabalho a fazer, para quem topar o desafio de estar por aqui. A proposta do Buriti Viola é justamente atentar para o desnecessário conflito entre o crescimento acelerado e a preservação do meio ambiente do Cerrado e de suas culturas tradicionais.
Da primeira vez que estive em Palmas não levei impressões relevantes. Apenas a lembrança das ruas divididas por blocos numerados, como um enorme labirinto descampado. Todas as ruas se parecem e é difícil encontrar um destino entre as alamedas geometricamente divididas.
Um projeto modernista já ultrapassado. Uma ideia ainda em construção. Ou quem sabe já desconstruída, como Brasília.
Ao contrário das antigas vilas da região do Tocantins, Palmas é uma cidade planejada, inaugurada há exatamente 23 anos atrás. Coincidentemente fez aniversário no dia de nossa chegada.
A capital tem como única vantagem a sua maior desvantagem: não ter nada. Digo isto porque os palmenses estão livres para começarem do zero a arquitetar a sua própria história e quem sabe se livrar de antigas correntes modernistas.
Também ao contrário de algumas cidades menores do estado, não me recordo de ter comido ou ido a algum restaurante significativo na capital.
O problema não é com a gastronomia regional, de traços fortes e com pratos muito tradicionais como a Galinha Cabidela e o Frango com Pequi, sem falar na enorme fartura de peixes de rio. A questão está, ou estava, na falta de boas casas em Palmas, além das churrascarias razoáveis e pizzarias de fatias duvidosas.
Desta vez começamos com uma impressão bem melhor da gastronomia na capital. Ao menos já tínhamos um destino certo se nos faltassem mais opções: a Cabana do Lago.
Cabana do Lago
O primeiro almoço da jornada do Buriti Viola nos serviu para, quem sabe, acreditar que a cidade melhorou no aspecto de oferta de comida. Foi uma refeição de respeito.
Esqueçam as frescuras decorativas e o padrão de exigência estético do eixo Rio-São Paulo. A Cabana do Lago é um lugar bem simples, um amplo salão para reunião de grandes grupos de pessoas, paredes de tijolos, um relógio feito de capim dourado (matéria base do artesanato local).
Por outro lado o atendimento é primoroso. Garçons simpaticíssimos, destes que já sabem o cardápio de cor e parecem simplesmente adivinhar o nosso gosto.
Eu estava à caça de peixes de rio. O cardápio contempla uma série de pratos típicos e algumas espécies de água doce. Assim que eu perguntei sobre o tucunaré, recebi de resposta o próprio peixe, uma peça de 800 gramas que o garçom buscou na cozinha e pôs em minha frente: “Tá bom para o senhor?”. Nunca esteve melhor.
Xaxá e Thiago optaram pela carne de sol de filé, acompanhada de um ótimo purê de mandioca, paçoca (a farofa), entre outros acompanhamentos interessantes. Boa pedida. Não resisti ao peixe e fiquei muito feliz pela escolha.
O tucunaré depois de frito foi servido inteiro, para me dar o prazer de destroçá-lo aos poucos com minha grande fome acumulada até às dezesseis horas. O pirão, a farofa e uma pimenta arretada completaram a diversão. Thiago roubou uma pequena parcela, mas fui eu que dei conta do restante, até os olhos.
Cabana do Lago
Endereço: 103s, Rua SO-9, Lote o5. Centro. Palmas / TO.
Funciona de segunda a sábado das 11h as 23h. Domingo das 11h as 16h.
Contatos: (63) 3215-4989
Para saber mais:
instagram.com/cabanadolago
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