O domingo seria de passeio até a costa, na cidade de Howth Irlanda, onde nos deparamos com uma espetacular feira de comidas.
Acordarmos tarde o suficiente para nos sentirmos descansados. Fomos tomar café numa rede, que não me recordo o nome. O esquema era escolher exatamente o que se queria entre as diversas opções disponíveis para montar o lanche.
Optei por uma baguette com rosbife, salame e queijos irlandeses, além tomate e pepino. Seguimos com o programa, tomando um trem até a pequena vila chamada Howth, na costa. De lá, a Chris e o Thiago iam direto para o aeroporto – que fica perto da cidade litorânea. Silvia e eu voltaríamos para Dublin passar mais uma noite.
O momento ruim da Irlanda
Foi uma agradável viagem de 40 minutos, em que testemunhamos a decadência do subúrbio da capital irlandesa e belas vistas do litoral. O dia estava lindo e perfeito para um passeio de domingo entre amigos. Tínhamos marcado uma reserva para almoço no restaurante King Sitric. Mais uma dica que Silvia e eu pegamos do programa do Anthony Bourdain, o No Reservations.
Um detalhe importante que não demos muita atenção é o fato do Bourdain ter feito o documentário sobre a Irlanda há alguns anos atrás. Na época o país vivia um período de grande crescimento econômico e gastança. E de ‘tigre celta’, hoje passou a compor os denominados Pigs.
Um dos apelidos mais sarcásticos que alguém poderia dar para a atual posição de Portugal, Ireland, Greece and Spain, o conjunto de patinhos feios que hoje estremecem a União Européia.
A Irlanda não é mais a mesma, assim como King Sitric que eu vi no programa No Reservations. A cidade de Howth, um pouco fora do bolsão de desilusão da capital, segue como um cantinho encantador e charmoso, a margem da crise.
A Feira
Ao saltar na estação de trem, nos deparamos, de cara, com uma feira de comidas de rua. Não há coisa que me atraia mais no mundo do que feira. Era uma feira bem especial, com apetitosos produtos irlandeses como queijos e frios. Comprei alguns queijos e salames que trouxe para o Brasil.
Também havia barracas com um conjunto memorável de frutos do mar fresquíssimos, conservas, doces, e todas aquelas coisas que a gente gosta.
Cheguei a me arrepender de ter comido aquele sanduíche mais cedo. Poderia ter guardado a fome para me desfazer em degustações, polvo, lulas em conserva, diversos tipos de azeitonas, salames, queijos, um paraíso! Se eu soubesse da feira antes, talvez nem tivesse feito a reserva no restaurante para comprar diversas iguarias e comer a beira mar, ou sentar em algum pub da charmosa cidade e deliciar-me.
King Sitric
Tínhamos nosso compromisso e fomos almoçar às treze horas, como combinado no King Sitric. A casa estava diferente, no entanto a comida não decepcionou. Tenho de confessar, nosso clima talvez pedisse algo menos formal, um pub para degustar iguarias da feira. Mas apesar disso, e de não termos sido muito bem tratados lá, a experiência acabou valendo à pena. Foi o almoço mais caro, mas também um dos melhores da viagem.
Dividi com o Thiago uma porção de ostras fritas e empanadas de entrada. Desde que quase me desfaleci após comer umas ostras cruas na Praia da Ferradura, em Búzios, há algum tempo atrás, fiquei com certo receio de voltar a me relacionar o molusco que sempre amei.
No entanto, há uma distância enorme entre as ostras que passeiam a manhã inteira, expostas ao sol, na bandeja dos vendedores no balneário Fluminense e as belas e carnudas ostras irlandesas. Seria uma grande falha minha se não provasse algumas. Na dúvida, pedi as fritas, que estavam deliciosas.
Razor Clam
O que me levou ao King Sitric, a tal da Navalha, já não estava mais no cardápio. Na falta do Razor Clam pedi, como uma segunda entrada, uma porção de uns pequenos, mas ótimos mexilhões marinados. Como prato principal, fiquei num peixe da região, Red Gurnard com molho de cogumelos, que estava não mais do que bom. Boa mesmo foi a sobremesa, uma seleção de bons queijos irlandeses.
Acho que no fim das contas fomos traídos pela enorme expectativa que criamos sobre o King Sitric. Acabei gostando menos do que esperava, mas o restaurante é, sem dúvida, bom.
Ficou difícil, também, tirar a imagem da charmosa feira de rua da minha memória. Após o almoço passeamos um pouco pela cidade, tiramos umas fotos no píer até a hora em que a Chris e o Thiago tiveram de ir embora para o aeroporto. Despedimo-nos e bateu uma tristeza danada. Dois dias foi muito pouco tempo para matar a saudade dos amigos.
De volta à Dublin
Silvia e eu fomos tomados de uma grande melancolia, naquela viagem de volta calma e quieta de trem, observando a tarde de domingo cair. Retornamos a Dublin e tudo parecia estar em preto e branco. Voltaríamos para Londres na manhã seguinte para ficar mais dois dias.
Nossa viagem estava chegando ao fim. Naquele clima pesado de crise que domina a capital irlandesa chegamos a pensar se não teria sido melhor ir direto para o aeroporto também, voltar para a Inglaterra e para o agito londrino, onde a tristeza de domingo é mais fácil de ser diluída.
Temple Bar e The Porterhouse
Nem cogitamos ir para o hotel. Erguemos a cabeça e fomos direto para Temple Bar. Sem querer pensar mais em nada, a não ser tentar curtir o final de domingo, voltamos a The Porterhouse, que foi uma decisão acertada. A micro cervejaria estava cheia, agitada, com um bom show de folk rolando. Era tudo que precisávamos para encerrar o capítulo da Irlanda, e este post, espantando a melancolia.
Além das ótimas cervejas, o bar acabou revelando também ter boa comida. Pedimos uma grande taboa de queijos e frios irlandeses que me serviu para confirmar a excelência dos produtos produzidos pelo país.
Junto com a degustação de comidas, para beber pedi, em sequência, uma Belfast Blonde, Hersbrucker Pilsen e a Red Ale Porterhouse, que havia pedido e gostado no dia anterior. Ficamos bastante tempo lá de papo e depois retornamos ao hotel para arrumar as malas. Foi um domingo inesquecível.
Mais sobre o The Porterhouse: porterhousebrewco.ie/temple-bar
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