O Âncora Copacabana Bar é um boteco pequeno e charmoso no alto da Rua Siqueira Campos sob o comando do ex-cozinheiro do Siri Mole, Tião.
A melhor maneira de conseguir uma boa dica sobre Copacabana é a pedindo para um nativo do bairro. Só mesmo alguém crescido, criado, morador da região possui a sabedoria suprema e a compreensão de tudo que se passa naquela metrópole dentro da cidade do Rio.
Copa é o território mais cosmopolita do Brasil, habitado por seus próprios seres, um mundo estranho aos olhares desavisados, assustador, movimentado. Belo e feio. Uma bagunça que tem sua própria lógica e organização. Um ecossistema cheio de maravilhosos cantinhos escondidos, lojas, parques, galerias e botecos.
Foi atrás de uma boa dica de boteco que estive a conversar com meu amigo nativo de Copa – e leitor do Diários – Márcio, padrasto do Xaxá, no desenrolar da festa de casamento deste último sábado passado. Se há uma coisa que o Márcio entende é de boteco de Copacabana. Pois meu amigo desta vez caprichou na indicação.
Um achado na Rua Siqueira Campos
O dialogo correu: “Tem um boteco com um ótimo arroz de polvo…” disse Márcio. Cortei sua fala e respondi: “Ah! O Pavão Azul é realmente muito bom…”. “Não estou falando do Pavão…” ele retrucou e seguiu: “… mas sim do Âncora, um pé sujo lá no final da Siqueira”. Como assim? Pensei comigo mesmo com cara de surpresa. Outro boteco, que não o Pavão, com arroz de polvo em Copacabana? Mais isso é um achado!
Disse meu amigo que o dono do boteco é um ex-cozinheiro do Siri Mole. Ele comprou o endereço da Siqueira há alguns anos, utilizando de sua experiência no restaurante do Posto 06 para criar alguns pratos diferentes. Entre eles um arroz de polvo muito bom e bem barato.
Pouco depois nosso diálogo foi interrompido pelo início da cerimônia de casamento. A festa se desenrolou, foi ótima, mas eu não consegui deixar um minuto de pensar na tal dica.
Quase não dormi e quando deu sete da manhã já estava de pé, apesar de ter ido deitar as quatro. Domingo, surpreendentemente, eu não acordei de ressaca. Descolei alguma atividade matinal como lavar a louça e arrumar a casa para dissipar a ansiedade.
Quando a Silvia despertou, combinei com ela, oportunamente, de ir visitar os meus sogros de tarde em… Copacabana. Convidei-a, então, para almoçar no tal Âncora.
Boteco ancorado em porto seguro
Ancora Copacabana Bar é o nome da casa. Fica numa área quase desabitada de pedestres e que passa despercebida pelos motoristas apressados a saírem do Túnel Velho em direção a Rua Siqueira Campos. É lá no alto desta rua, quando ela deixa de ser Siqueira e vira a Praça Vereador Rocha Leão.
Lá na boca do túnel Tião ancorou seu saber, como se quisesse ficar escondido ali, em porto seguro, servindo apenas a sua clientela fiel.
Na verdade a opção por comprar aquele espaço se deu mais por uma questão financeira, já que os preços dos imóveis comerciais perto da praia e do movimento das principais esquinas do bairro são caros. A distância do Âncora do agito, porém, acabou por preservar a casa de um possível excesso de contingência.
Ali, naquele cantinho, o boteco é acessível somente aos moradores da área e aos clientes assíduos de Tião, que me revelou Tita, sua esposa, acompanham o cozinheiro desde os tempos do Siri Mole. Vem gente de todos os cantos para continuar a provar os seus pratos de frutos do mar. Mais vale, portanto, este público menor, porém bom e fiel.
Clima alegre e bom atendimento
Aportamos por volta das quatorze horas e as poucas mesas do espaço estavam vazias. Foi sentarmos num canto que a casa encheu. De cara já deu para perceber que não se trata de um pé-sujo comum: Não senti no ar uma tristeza bêbada e decadente, muito ao contrário.
Algumas famílias da área habitavam as outras mesas e o clima era bastante alegre e confortável. A impressão foi reforçada pelo ótimo atendimento do garçom Jorge. Boteco com garçom é um luxo, ainda mais um com a experiência e elegância de Jorge. Ele me contou que já passou por casas clássicas da história da noite do Rio como a People.
O seu tamanho reduzido, a pequena quantidade de lugares, somados ao típico ambiente de boteco carioca (com azulejos na cor azul e branca nas paredes, balcão de metal) fazem do Ancora um lugar bastante charmoso.
Como bem observou a Silvia, bastava apenas para casa uma maquiada básica: pintura no teto, um jeitinho no banheiro e um e outro detalhe para perfumar. Mas sem mexer nos azulejos, no chão original de velhos ladrilhos e num quê de desorganização típica de todo boteco.
Pratos de peixes e frutos do mar
O cardápio fica colado junto ao balcão ou é cantado pelo garçom. No domingo tinha bobó, moqueca, risoto de polvo e camarão além de outros pratos como carne de sol com aipim. A despeito do termo risoto, na verdade se trata de um prato com arroz branco comum, do jeito que eu gosto.
Os preços eram muito atraentes: risotos entre R$ 19 e 23, moqueca R$ 22,00. Não tive a menor dúvida na escolha: Risoto de Polvo. Por sugestão da Silvia, decidimos também pedir o de camarão e dividir os dois pratos para provar.
Tião estava na pequena cozinha, botando a mão na massa para atender ao povo que ali ansiava por sua comida. “Ele passa o dia lá dentro”. Disse-me sua esposa Tita. Fica lá durante o dia, de segunda a sábado. Aos domingos ele aparece de 15 em 15 dias.
Para substituí-lo, ele pessoalmente treinou uma equipe que cozinha nos turnos da noite. A casa funciona todo o dia até as 0h e os pratos de frutos do mar podem ser apreciados diariamente.
Risoto de Polvo e de Camarão
Os risotos chegaram bem rapidinho, bem apresentados e servidos sobre dois pratos. Que beleza de imagem fumegante! Resgatei umas duas colheradas de cada sabor, joguei azeite sobre o arroz, um pouco de uma pimenta tentadora que a Tita me arrumou e primeiro provei o polvo. Na primeira garfada já pude constatar exatamente o que esperava: eu adorei. O mesmo em relação ao de camarão.
Ficou bastante claro que a receita é mais elaborada, e refinada, do que a do Pavão Azul. Apesar de ter pessoalmente um carinho enorme por este último, foi difícil não admitir que o tanto arroz de polvo, como de camarão, do Âncora são melhores.
O boteco, na verdade, me lembrou muito o Pavão nos tempos em que eu comecei a frequentá-lo (na época, também, através da dica de um nativo de Copacabana). Ou seja, um cantinho maravilhoso do bairro restrito e reservado a um público da área.
Experiência do cozinheiro
O forte do Ancora é exatamente a experiência que Tião trouxe em seus tempos no restaurante Siri Mole para abrir uma espécie de Siri com jeito de Pavão. “Você precisa provar o Polvo a vinagrete”, sugeriu-me Tita, enquanto eu elogiava os pedidos que provei.
Nossa! Já não cabia mais nada depois daquela comilança. O vinagrete eu deixo para outro dia. Nós comemos exageradamente. Poderia dizer que, com entradas, um casal de apetite normal consegue dividir uma porção de risoto para uma pessoa com satisfação e muita economia. No fim de nossa inesquecível passagem, com bebidas e dois risotos, pagamos R$ 50,00 pelo almoço.
A tomar uma cerveja estupidamente gelada, e estar aconchegado no canto daquele boteco feliz, eu por mim não saía de lá tão cedo. Mas o objetivo era de um almoço rápido e apenas uma primeira impressão sobre a casa. Bastou aquela escala ligeira para o Âncora Copacabana Bar e sua gentil equipe me cativarem a ponto de eu poder afirmar que já sou um cliente fiel.
Ancora Copacabana Bar
Endereço: Praça Vereador Rocha Leão, 52, Loja A. Copacabana. Rio de Janeiro / RJ
Horário: terça a sábado das 9h às 22h. Domingo e segunda das 9h às 18h
Contato: (21) 2547-4700
Para saber mais:
instagram.com/ancoracopacabanabar
Gostou da dica? Então quando der um pulo lá não deixe de falar pra gente como foi a experiência no Instagram do Diários Gastronômicos ou aqui no blog.
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Almoçando na casa da Stella e Marcio, me ofereceram um DELICIOSO bobó de camarão. Adorei ! E Stella , na sua simplicidade habitual,me disse: É daquí, do Tião, do Bar Ancora,que o Marcio gosta muito…Tudo de lá é bom ! Ah,fiquei fã ! Saio ESPECIALMENTE da Av.Rui Barbosa, para degustar os quitutes de lá,onde sou sempre muito bem atendida pelo Tião ou seu amigo e sócio Gentil ou seu auxiliar.Até a comidinha mais simples,como o”clássico”feijão com arroz e carne ensopada é deliciosa A apresentação dos pratos é sempre caprichada…De “quebra”, a beleza e simpatia da Tita….
Sou morador antigo de Copacabana, especificamente do Bairro Peixoto, e testemunha das maravilhas culinárias de Tião, do Bar Âncora. ´Tião é m chef zeloso e muito talentoso. Além do risoto de polvo e de caramão, recomendo também a lula, o bacalhau fresco, o peixe à brasileira e as iguarias da culinária nordestina. De vez em quando, aos domingos, ele faz um guisado de cabrito que é uma delícia. Sua esposa Tita é muito simpática e gentil com todos os clientes. Recomendo a todos que venham conhecer o Bar Âncora, um privilégio de nós moradores do Bairro Peixoto.
Esse guisado de cabrito é uma ótima dica…
Já vi que tem muita coisa ainda para eu provar por lá!
Abraços,
Dé Comber