Piratininga bar e a velha-guarda da boemia

O BAR PIRATININGA ESTÁ PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONÔMICA PAULISTANA.

Levei muito tempo para conhecer um dos bares mais emblemáticos da Vila Madalena: o Piratininga. Localizado numa casinha centenária na Rua Wisard, o local parece já não atrair tanto as novas gerações. De certo modo, foi sendo um pouco esquecido no meio do batalhão de novos estabelecimentos que abrem no bairro toda a semana.

Em parte isto se deve a uma mudança no perfil do público, mas principalmente, pelo o aumento significativo da concorrência. O Piratininga é como um templo de resistência de uma boemia romântica e idealista cada dia mais rara. Movida outrora por uma velha-guarda profissional.

Piratininga Bar
Clássico personagem da noite paulistana, o barman Passarinho garante os bons drinques

Algumas adaptações talvez sejam fruto de uma tentativa de atrair um público distinto do habitual. Como por exemplo, oferecer comida japonesa (o próprio local se vende hoje em dia como Piano-sushi). Um piano-bar, com tema de anos 30 e comida japonesa é algo realmente inusitado. Eu acabei não comendo nem os quitutes japoneses, nem outras opções do cardápio. Não pude avaliar a comida, portanto.

O Piratininga está na Vila Madalena desde 1992 e como o próprio site do local revela, foi o primeiro bar a oferecer chope na região. Os barris tinham de ser comprados diariamente na própria distribuidora, pois não havia entrega no bairro. No aconchegante e charmoso salão do piano-bar também já passaram muitos músicos (o local sempre teve uma forte veia musical, com apresentações todos os dias).

Piratininga Bar
O sushi é um inusitado destaque num piano bar com tema anos 30

É inquestionável o encanto do lugar, que exala história. O seu maior bem está, creio eu, na própria equipe. A começar pela clássica figura do barman Passarinho – que deveria entrar no rol dos personagens mais importantes da noite paulistana. E também pelos garçons especialíssimos, de verdade, difíceis de encontrar hoje em dia em que tudo é muito padronizado e artificial. Não poderia deixar de citar, igualmente, a simpatia e receptividade do casal que comanda o pedaço, os jornalistas Vera e Pedro.

Parei para trocar uma ideia com o Pedro – ele no uísque e eu no chope – junto ao longo balcão de madeira do bar, que me revelou (apontando para o formato ondulado), foi construído por suas próprias mãos a partir das sobras de material do teto – após uma reforma realizada no local.

Piratininga Bar
A noite teve até passei de Ford 29 com a galera do Kekanto. Muito legal!

O que seria apenas uma conversa rápida acabou por durar uns quarenta minutos! E isto porque eu tinha hora para ir, do contrário poderia ter esticado o papo agradável até a madrugada. Sem dúvida nenhuma só um bate-papo com o Pedro ali no balcão, ou nas mesinhas da calçada, a tomar umas doses de uísque, já vale um retorno.

Pedro ainda sustenta um velho Ford 29, impecável, que deixa estacionado na porta do bar para dar umas voltas com os clientes pelo bairro. Tive a oportunidade de rodar um pouquinho no carro, num passeio cheio de emoção pelas ladeiras da Vila Madalena. Muito legal!

Por sua tradição, sua equipe e seu ambiente encantador, a passagem pelo Piratininga é obrigatória a todos que desejam se aprofundar mais na história da boemia de São Paulo.

O BAR PIRATININGA ESTÁ PERMANENTEMENTE FECHADO. TEXTO MANTIDO COMO MEMÓRIA GASTRONÔMICA PAULISTANA.

Endereço: Rua Wisard, 149 – Vila Madalena. São Paulo (SP).

Quer lembrar de outros tantos bares e restaurantes que fecharam as portas no Rio de Janeiro e São Paulo, acesse a nossa página: memória

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