Já conhecida o Bar El Federal de outros tempos. Sentamos logo junto à entrada, onde o sol da tarde ainda ofertava alguma iluminação natural ao ambiente. Fiquei de frente ao balcão, com o seu característico arco em madeira detalhadamente trabalhado, onde se pode ver à hora num antigo relógio ali disposto. Diversas cadeiras em estilos distintos ficam a serviço dos clientes.
Bodegón Histórico
A casa é um dos pontos que sempre marco para retornar em minhas viagens a Buenos Aires. Inaugurado em 1856 (não se enganem), o El Federal atravessou muito bem o tempo e soube modernizar-se sem perder o charme de estabelecimento histórico.
Está longe de ter aquele aspecto decadente de alguns bodegones portenhos. O ambiente é bem cuidado, conta com uma equipe de jovens garçons e uma trilha sonora pop interessante a rolar por diversas caixas de som, num volume bem equalizado. Melhor de tudo, o bar fica aberto o dia inteiro, estendendo o horário de funcionamento até de madrugada. Além de aceitar cartões de crédito, o que é raríssimo em Buenos Aires.
Esse espírito entre o histórico e o moderno parece atrair uma clientela bem vasta. De gente mais velha que para à tarde para um café, aos jovens, tanto argentinos como turistas. Mas apesar de bastante conhecido e de estar não muito distante da Praça Dorrego, o bar não é um lugar dominado por gringos. Segue como um programa do dia a dia para muitos buenairenses.
Foi lá que combinamos de encontrar o Lionel Kleiman, consultor gastronômico, editor e idealizador do blog Guerrilla Culinária. Marcamos o encontro por volta das vinte horas, mas as dezenove eu e Silvia já havíamos aportado no estabelecimento.
Chopes artesanais
Para minha felicidade deparei-me com três opções de chopes artesanais no cardápio. Prová-los seria um ótimo inicio de programa. Curioso que a palavra chopp também foi absorvida pela cultura portenha. De origem alemã ela foi adotada de braços abertos por nós brasileiros e aportuguesada para chope.
Nos dias de hoje é difícil encontrar um lugar que não designe a cerveja que advém direto do barril, e não pasteurizada, de chope ao invés do termo “ La tirada”, como os buenairenses costumavam se referir a bebida.
Pedi um Chope Imperial Rubio (12 pesos). Cerveja não é um negócio barato na Argentina, ainda mais as artesanais. Os apreciadores de vinho se dão muito melhor por lá. Ao nosso lado um casal devorava um bonito prato de Bife de Chorizo com papas fritas. Há muita coisa interessante no cardápio do El Federal a preços em conta. De sanduíches a parrilla.
Ótimo chope eu constatei ao primeiro gole. Suave e com equilíbrio no amargor. Melhor de tudo, servido gelado. O serviço da casa parece nos evitar, de vez em quando, portanto é bom não ser afobado e curtir a estada. A Silvia solicitou o vinho branco da casa, em uma das idas e vindas da mocinha que nos atendeu. Lá, diferentemente do La Brigada, havia tanto a opção de taça, quanto de garrafa de um quarto.
Depois segui em minha exploração cervejeira com o Chopp Colorado (14 pesos). Um pouco mais forte e caramelado, eu gostei, mas não tanto quanto o Rubio. Não cheguei a provar a terceira opção de chope, o La Negra (14,00), pois escolhi o Rubio como bebida de cruzeiro para a noite.
Papo sobre Bodegones
Estávamos muito cansados, afinal de contas nosso dia tinha empezado às quatro horas da matina. A chegada de Lionel, bem na hora marcada, voltou a nos animar. Falamos muito sobre comida, é claro, mas também sobre internet e uma boa pitada sobre Buenos Aires e Rio de Janeiro. Um tema que me fascinou ao longo da viagem é o significado do bodegón dentro da cultura portenha, assim como o do botequim na carioca.
Picada Gran Federal
Para completar a bom papo, Lionel solicitou uma picada Gran Federal. Boa oportunidade para provar distintos petiscos clássicos da gastronômica portenha. A grande tábua continha Queijo amarelo (se não me engano Sardo), Roquefort, tortilla de papa, presunto cru, palmitos, leber (patê de fígado de aves), azeitona verdes e pretas, cantimpalo e longaniza (estes últimos, dois tipos de salame). Além de um trio de Maní, batatas chips, biscoito palitinhos e a eterna cestinha de pães. A porção foi mais do que suficiente para nos satisfazer.
Segui anotando diversas sugestões de bodegones e restaurantes passados por Lionel. Uma pena que não teríamos esse tempo todo para explorar a cidade. Entre os programas que gostaria de ter feito era comer um Choripán, mas viajar é antes de tudo um exercício de exclusão.
Não voltaríamos a encontrar nosso amigo novamente. O tempo foi realmente muito curto, mas é sempre bom deixar outras coisas por fazer em Buenos Aires. Há muitas! Porém, sem dúvida nenhuma, entre meus programas para uma próxima viagem o El Federal sempre estará presente.
Quando o relógio apontou vinte e três horas nosso cansaço já era indisfarçável. Fechamos la cuenta e nos despedimos de Lionel. Dali foi tomar um táxi direto para a cama do hotel.
Bar El Federal
Endereço: Avenida Carlos Calvo 599 – San Telmo, Buenos Aires. Argentina.
Horarios: diariamente das 8h às 02h.
Contato: +54 (11) 4361-7328
Para saber mais:
losnotables.com.ar/bar-el-federal
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